Foi aprovada na noite desta quarta-feira (31) a MP dos Ministérios com 283 votos favoráveis e 155 contrários. Mas, as horas que antecederam a votação no plenário da Câmara dos Deputados foram marcadas por tensões, ameaças e desespero por parte da base aliada do governo, que já vivia com o risco de a MP não ser voltada e estrutura do governo Lula ruir.
Dessa maneira, o contexto que antecedeu e sucedeu a votação da MP foi de vários recados de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, ao governo Lula. Em declarações à imprensa, Lira afirmou que atuou para aprovar a MP, que a articulação do governo federal falhou e que agora o “governo Lula deve andar com as próprias pernas”.
Para falar sobre este cenário, entrevistamos a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que avalia a situação e diz que o se o governo Lula não quiser se tornar refém de Lira e do centrão, precisa mobilizar as suas bases.
Fórum – Como você avalia o trâmite da MP dos Ministérios? e a postura do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL)?
Sâmia Bomfim – Toda a discussão e depois a aprovação da MP da reformulação dos ministérios mostra o grande desafio que tem o governo Lula. E também aquilo que nós já dizíamos no processo eleitoral: ganhar as eleições não significa automaticamente estar na dianteira política o tempo todo.
Primeiro porque o Congresso Nacional é composto por uma maioria fisiológica e por uma grande parcela bolsonarista que não vai dar vida fácil para o governo Lula, não tem interesse nisso e que só vai trabalhar na base da chantagem, da distribuição de cargos, do pagamento de emendas.
Fórum – E o presidente da Câmara, considera que ele chantageou o governo federal para aprovar a MP dos Ministérios?
Sâmia Bomfim – Durante o governo Bolsonaro foi instituído o orçamento secreto que deu uma autonomia para o fisiologismo do Congresso Nacional, ou seja, eles dependem tanto dessa lógica de negociação direta com governo, basta que ele execute as emendas.
Acabou, né? A RP nove, o modelo de orçamento secreto, mas agora eles fazem chantagem sobre a RP2 e quando não tiver a execução dessas emendas eles não entregam aquilo que é agenda prioritária para o governo, mas eu acho que isso nos serve de alerta também pra se inspirar em outros modelos da própria América Latina como, por exemplo, na Colômbia que o congresso tenta emparedar o presidente [Gustavo Petro], quando isso acontece ele apela pro respaldo, pra mobilização popular. Porque depender somente das chantagens que são dirigidas e lideradas por Arthur Lira (PP-AL), mas que tem uma combinação de interesses, vai tornar o governo refém nos próximos quatro anos.
Todos nós que desejamos que o governo seja bem-sucedido devemos fazer parte desse movimento social popular de apoio ao governo. É por isso que considero essa abordagem a melhor opção, contar com o respaldo popular.
Fórum – Como você avalia a articulação do Palácio do Planalto com a Câmara dos Deputados?
Sâmia Bomfim – Acho que é a articulação política está começando a engrenar agora porque enfim é o quinto mês de governo acho que é natural que haja rusgas no início né de gestão ainda mais pós uma eleição tão polarizada e com uma composição desfavorável para o governo no Congresso.
Mas, na minha opinião, o elemento principal é o aspecto político, ou seja, como o Congresso reage diante das demandas e pressões feitas ao governo. Também acredito que se relaciona ao modo como o governo interage com a sociedade e com sua base eleitoral. Apostar apenas em uma solução institucional, sabemos onde isso nos leva.
Então eu localizaria mais as conflitos e crises em torno desses outros temas do que numa articulação política que, no meu ponto de vista, vai começar a engrenar naturalmente porque tem a ver com o governo ainda se assentando se consolidando. As informações são da Revista Fórum.