O vídeo de um vendedor ambulante que usou uma estratégia diferente para chamar a atenção do público dominou as redes sociais ao longo da semana. Antes de pegar as barras de chocolate que trazia na sacola, ele anunciou um produto diferente. “Pessoal, olha a maconha de R$ 10 e de R$ 20. Quando é droga todo mundo olha, né?”
A pegadinha pegou muita gente de surpresa, inclusive um rapaz que aparece no vídeo manuseando algumas notas e que parecia interessado no produto. O marketing diferenciado deu certo. “É inusitado, diferente do que o pessoal está acostumado”, diz Ralfo García, de 22 anos, autor do vídeo.
O registro ocorrido na Linha Vermelha do metrô paulista, que liga as estações Palmeiras-Barra Funda e Corinthians-Itaquera, foi imaginado por Rafael durante a madrugada, em sua casa, um apartamento na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo.
Com a ideia na cabeça, ele chamou um amigo, Samuel, também vendedor ambulante, para aparecer no vídeo como possível comprador. “Fizemos dois testes e percebemos que a galera deu risada. E tem gente que realmente se movimenta para comprar. Gravamos o vídeo e explodiu”, afirma Rafael.
Rafael é vendedor ambulante desde o ano passado. Em 2021, ele perdeu os avós e se mudou para a Chapada Diamantina, na Bahia, para viver com familiares. Voltou para São Paulo sem ter onde morar e sem dinheiro.
A saída foi pedir R$ 18 para um amigo e investir em caixas de chocolate. Hoje, além do chocolate, ele também vende fones de ouvido, balas, chicletes e capas protetoras para documentos. Trabalha de 4h a 6h por dia e ganha cerca de R$ 3 mil. “Mas em época de festa, como Carnaval, Parada Gay, trabalho umas 12h e ganho uns R$ 5 mil.”
Apesar da boa rentabilidade, o vendedor ambulante diz que não dá pra esbanjar, porque sempre corre o risco de perder a mercadoria diante de alguma fiscalização. O metrô de São Paulo proíbe a comercialização de produtos nos vagões e dependências das estações. “A gente perde os produtos, às vezes o dinheiro… Mas não tem vilão. Os guardas estão trabalhando, tem família também. Só não pode ter esculacho.”
Ele também afirma ter cuidado para não ser incômodo com a nova estratégia de marketing. “Se tem criança ou policial no vagão eu não faço. E quando percebo que teve cara feia, nem continuo vendendo. Guardo minhas coisas e fico quieto. É comum encontrar pessoas estressadas, sobretudo no horário de pico, e não quero ser inconveniente. É para ser descontraído.”
Após o sucesso nas redes sociais, Rafael quer turbinar a carreira como MC de funk, sua verdadeira paixão. Ele assina como KV MC e já tem uma música pronta para ser lançada, intitulada “Ápice”. Pelo telefone, ele canta um trecho:
“Todos os dilemas da vida o que eu passo mais tempo tentando entender
É a hipocrisia de criticar grana, sonhando com um dia a minha grana chover
Capital é podre, mas eu quero ter
Não gosto de rico, mas eu quero ser
Olho pro espelho e já não mais me vejo
E nem eu mesmo entendo o que quero dizer”
“A minha música vai me levar para outro lugar. Mas não vou deixar de fazer as coisas com humor. Sou assim”, finaliza Rafael. As informações são do site QG Notícias.