O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), se descontrolou, nesta terça-feira (26), em sessão da CPMI dos Atos Golpistas, ao ser perguntado pela relatora Eliziane Gama (PSD-MA) se as eleições de 2022 foram fraudadas.
Inicialmente, Heleno tentou discorrer com uma resposta protocolar, ao afirmar que não poderia se opor às eleições ou às urnas eletrônicas, uma vez que elas “foram examinadas (por autoridades competentes)”.
Eliziane, então, perguntou se Heleno havia mudado de ideia e reconhecido o resultado das urnas que deu vitória ao presidente Lula (PT), já que ele foi um dos militares de alta patente que incitaram apoiadores contra o sistema eleitoral e a democracia. Eis que Heleno se volta para o advogado que o acompanha e começa a proferir palavrões: “Ela fala as coisas que ela acha que estão na minha cabeça. Porra, é pra ficar p***. P*** que o pariu”.
O ex-ministro, que pediu autorização ao Supremo Tribunal Federal (STF) para faltar ao depoimento, chegou à sessão sob aplausos da bancada bolsonarista. Mesmo com decisão do ministro Cristiano Zanin para ficar em silêncio, caso optasse, Heleno fez um discurso inicial, e respondeu a maior parte das perguntas da relatora da comissão – embora tenha se calado diante de um questionamento sobre participação em reunião de Bolsonaro com o hacker Walter Delgatti, sobre tentativa de invadir as urnas eletrônicas.
Em suas considerações iniciais, o ex-chefe do GSI assegurou que nunca discutiu assuntos eleitorais com seus subordinados. Para se afastar de qualquer responsabilidade sobre o vandalismo em Brasília, ele ressaltou que encerrou suas funções como ministro em 31 de dezembro, portanto, não estava em posição de fornecer informações sobre os eventos de 8 de janeiro.
“Jamais me vali de reuniões ou palestras ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou políticos partidários com meus subordinados no GSI. Não havia clima para isso e o único ser político do GSI era eu mesmo”, pontuou.
“Já esclareci que, a partir da meia-noite do dia 31 de dezembro de 2022, véspera da posse do atual Presidente, deixei de ser Ministro de Estado. Daí em diante, não fiz mais qualquer contato com os servidores do GSI ou da Presidência da República. Portanto, não tenho condição de prestar esclarecimentos sobre os atos ocorridos no dia 8 de janeiro de 2022”, completou.
Heleno também comentou brevemente sobre a delação premiada que o tenente-coronel Mauro Cid fechou com a Polícia Federal. Após questionamento da relatora, o ex-ministro do GSI classificou como “fantasia” o relato feito pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonaro de que teria presenciado reuniões em que o então presidente e chefes das Forças Armadas trataram de um golpe de Estado.
“Cid era apenas um ajudante de ordens do ex-presidente. Ou seja, cumpria ordens”, disse Heleno. “Eu quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Não existe essa figura de o ajudante de ordens sentar numa reunião dos comandantes de força e participar da reunião. Isso é fantasia. Fantasia. A mesma coisa é essa de delação premiada, ou não premiada, do Mauro Cid. Então, apresentando trechos dessa delação, me estranha muito, porque a delação está ainda sigilosa. Ninguém sabe o que o Cid falou”, completou.
Posteriormente, Eliziane afirmou que Cid, como ajudante de ordens, poderia até não participar da tomada de decisões nas reuniões de Bolsonaro, mas que, segundo relatos obtidos pela CPI, presenciava os encontros.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) também confrontou a declaração com uma imagem que consta no site oficial do Planalto. Nela, Bolsonaro está no evento intitulado “Reunião com Ministro da Defesa e Comandantes das Forças Armadas”, no dia 25 de fevereiro de 2019. Cid aparece ao fundo, atrás do próprio Augusto Heleno, junto com os então chefes de Marinha, Exército e Aeronáutica. A legenda detalha:
“Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante encontro com durante Reunião com Fernando Azevedo, Ministro de Estado da Defesa; Almirante de Esquadra Ilques Barbosa Júnior, Comandante da Marinha do Brasil; General de Exército Edson Leal Pujol, Comandante do Exército Brasileiro; Tenente-Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Moretti Bermudez, Comandante da Aeronáutica; Almirante Esq Cláudio Portugal de Viveiros, Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, Interino, e Alte Esq Almir Garnier Santos, Secretário-Geral do Ministério da Defesa.”
Ataque à sede da PF
Sobre os ataques à sede da Polícia Federal, no dia 12 de dezembro, ele afirmou que ficou sabendo pela televisão, “sentado na minha casa”. O general citou ainda a tentativa de bomba nos arredores do aeroporto de Brasília e disse que não teve qualquer participação.
Acampamentos golpistas
Ao comentar sobre o acampamento no Quartel-General do Exército, em Brasília, local em que os manifestantes se abrigaram antes e depois dos ataques golpistas em Brasília, Heleno disse que a movimentação era acompanhada pelo Ministério da Defesa, e não era responsabilidade do GSI. Ele nega que tenha ido ao acampamento, mas reforça o ar “pacífico” e “ordeiro” das atividades.
Dali saíram os criminosos que atacaram a sede da PF, em 12 de dezembro, e que tentaram explodir uma bomba no aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro.
“Também declaro e assino embaixo: jamais estive no acampamento que foi realizado em frente ao que a gente chama de Forte Apache. Eu nunca fui ao acampamento, não por falta de tempo, mas por falta de condições de participar do que era, do que realizavam no acampamento, que, pelo que se sabia, eram atividades extremamente pacíficas, ordeiras. Eu nunca considerei o acampamento algo que interessasse à segurança institucional. Eu sempre achei que era uma manifestação política, pacífica e que não poderia ser tratado dessa maneira. As informações são do site Jornal do Brasil.