Nascido e criado em Morro do Chapéu, desde a adolescencia, Lucas da Silva Lima, de 35 anos, cultiva um carinho e dedicação a natureza, em especial as orquídeas, as quais ele dedica mais de 13 anos de estudo. Se considerando um orquidófilo, Lucas cultiva mais de 300 espécies (280 já catalogadas), em um orquidário aberto à visitação e as chama carinhosamente de “minhas filhas”.
Lucas revela que os livros para aprender sobre as plantas que compõem a família Orchidaceae foram doados por amigos. Filho de um caminhoneiro e de uma dona de casa, ele faz parte de uma família de oito filhos, cinco mulheres e três homens.
Ainda criança, Lucas viveu na mesma região onde está hoje situado o orquidário. “Em pedras e no solo já tinha algumas orquídeas nativas e isso despertou minha curiosidade no tocante às formas das flores”. Foi quando nasceu o sonho.
“Com 11 anos de idade, eu já havia definido meu estilo de vida. O que eu gostaria de viver. Uma vida simples e objetiva entendendo que, diante de tudo que tem no mundo, a natureza é o lugar onde eu mais me encontro, mais me sinto vivo”, conta. Aos 15 anos, veio para Salvador, onde trabalhou em um centro automotivo. “Por conta do trabalho, tive que parar de estudar”, conta.
“Cursei até o 2º ano do Ensino Médio para poder dar continuidade à concretização desse sonho”. Oito anos depois e com dinheiro acumulado fruto do trabalho, largou a capital baiana e voltou para a cidade natal.
Ainda criança
Em apenas três dias, Lucas da Silva Lima conseguiu adquirir um terreno, onde estabeleceu sua residência e instalou o orquidário denominado Capadócia, uma homenagem à região turca conhecida por suas construções em tocas. O espaço inclui uma formação rochosa local, criando uma toca semelhante àquelas encontradas na Turquia. Ao redor dessa grande rocha, começou a desenvolver a estrutura física para abrigar suas orquídeas.
Ao enfrentar desafios no cultivo, Lucas sentiu a necessidade de aprofundar seus estudos para proporcionar o melhor cuidado para suas plantas. Conversando com amigos, como Márcio Brito, que já cultivava orquídeas, obteve empréstimo de vários livros. Refugiando-se no único cômodo construído, com dimensões de três metros de largura por três metros de comprimento, mergulhou nos estudos, utilizando velas para iluminação. Complementou suas pesquisas pela internet.
Devido à falta de conhecimento, Lucas perdia muitas plantas inicialmente, mas à medida que estudava, seu amor pelas orquídeas crescia. Construiu um ambiente rústico, incorporando plantas nativas e resgatando espécies descartadas por terrenos vizinhos, que desconheciam o valor dessas plantas.
“A família das orquídeas tem cerca de 40 mil espécies catalogadas, dentro de 800 gêneros. As minhas matrizes eu consigo por compra e por trocas com colecionadores. No mundo da orquiodifilia, é muito comum a gente fazer trocas de espécies”, ressalta o estudioso. Questionado sobre quais ele mais gosta, responde que “são todas filhas”, mas que algumas se destacam como a Anathallis Microfita, que é uma micro orquídea, e algumas Catteleyas, as mais cultivadas no mundo.
No seu orquidário, Lucas cultiva não apenas orquídeas, mas também 60 espécies de bromélias e outras famílias de plantas, como samambaias, jamaicas, cactos e suculentas. O clima da região, com temperaturas mais baixas, especialmente à noite, proporciona condições favoráveis. Lucas destaca a importância de observar as variações climáticas para garantir as condições ideais de luminosidade, ventilação, temperatura e umidade, considerando as necessidades específicas de cada planta.
Estabelecendo parcerias com cultivadores de diferentes estados e até de outros países, como República Dominicana e Vietnã, o orquidário possui uma área comercial e quatro estufas com plantas para apreciação, sendo que a coleção pessoal de Lucas não está à venda. Duas novas estufas estão em construção, juntamente com uma cantina que oferecerá produtos locais. Lucas também planeja ampliar sua residência em busca de mais conforto com o passar dos anos.
Para manter o orquidário em funcionamento, Lucas depende principalmente do turismo local. No entanto, ele reconhece que a presença de turistas nem sempre é constante na cidade. Visitas ao local podem ser agendadas de terça a domingo, mediante a doação de um quilo de alimento, utilizado para montar cestas básicas destinadas aos moradores da região.
Atualmente, Lucas sonha em obter mais recursos para concluir o Capadócia e destaca que o apoio das pessoas, ao divulgarem o espaço, é fundamental. Ele destaca que a diversidade de formas, cores e perfumes das orquídeas é o que mais o encanta, inspirando-o a cultivá-las cada vez mais. Jornal da Chapada com informações do portal A Tarde e do repórter Anderson Sotero.