O recuo de parte dos vereadores que assinaram o requerimento proposta pelo fundador do MBL, Rubinho Nunes (União), para abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) contra o padre Júlio Lancellotti não coloca fim à perseguição do movimento contra o religioso.
Em publicação nas redes sociais, Renan Santos, coordenador do MBL, busca distanciar o movimento da CPI requerida pelo ex-membro dizendo que “amigos aqui do MBL: essa briga com esse padre não é nossa”.
No entanto, em seguida, ele chama o religioso de “bizarro” e diz que padre Júlio “é a figura mais blindada da esquerda — quiçá da política brasileira”, antes de desferir nova ameaça.
“Haverá o momento de confronto com ele e com a indústria da miséria que destrói o centro de SP. Mas não é agora”, sinalizou Santos, que diz que vai “listar e processar todos os que nos acusam e cometem crimes”.
Amigos aqui do MBL: essa briga com esse padre não é nossa. Conhecemos bem a índole e os contatos desse bizarro. É a figura mais blindada da esquerda — quiçá da política brasileira.
Haverá o momento de confronto com ele e com a indústria da miséria que destrói o centro de SP. Mas…
— Renan Santos⬛️🟨⬜️ (@RenanSantosMBL) January 4, 2024
Longa perseguição
A estratégia de Nunes para angariar apoio e tentar instaurar uma CPI contra Lancellotti segue a metodologia do MBL com uso de fake news, discurso de ódio e ataque a direitos humanos.
Em vídeo, o vereador acusa o padre de ser “cafetão”, requentando uma antiga tática de ataque do movimento contra o religioso, que já vítima de uma armação do MBL ao tentar ligá-lo a um caso de pedofilia.
Os próprios vereadores que recuaram da assinatura, como Thammy Miranda (PL), diz ter sido vítima de uma fake news de Nunes para ser convencido a assinar o requerimento.
“Em nenhum momento foi citado o nome do padre no requerimento, se tivesse jamais teria assinado porque defendo o trabalho dele. O padre está lá para ajudar as pessoas, nós estamos do mesmo lado. O que está acontecendo é uma grande fake news, o vereador (Rubinho Nunes) está fazendo campanha política em cima”, declarou Thammy Miranda em entrevista ao jornal O Globo.
Ao “vender” a CPI, Nunes teria escondido o nome do padre e dizendo que iria investigar a atuação de ONGs que atuam junto a moradores de rua e dependentes químicos na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.
Apoiador da reeleição de Ricardo Nunes (MDB) nas eleições para a prefeitura de São Paulo, o ex-MBL busca instaurar a CPI para ligar Lancellotti à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL), que lidera as pesquisas, e, assim, criar um cenário para atacar o principal adversário do atual mandatário.
Na ofensiva contra Lancellotti, Nunes busca incitar a horda fascista de apoiadores contra o religioso, alvo principal da CPI, embora não faça parte de quaisquer ONGs.
Pedofilia
A estratégia foi semelhante a usada pelo MBL no ataque em que acusou Júlio Lancellotti de pedofilia em 2020.
Do Val, Santos e Guto Zacarias – atual deputado estadual e ex-assessor parlamentar de Do Val – foram acusados por dois ex-membros do MBL de terem forjado, de forma criminosa, uma denúncia de pedofilia contra o padre.
Segundo Fernando Dainese e Lucas Studart, que deixaram o grupo em dezembro de 2020 por, segundo eles, discordarem das “táticas” de seus membros, o ex-assessor de Arthur do Val na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Guto Zacarias, teria criado uma conta no Facebook, em setembro daquele ano, com o nome “Matheus Rocha Nunes”, um perfil fake de um jovem com 16 anos.
Esse perfil foi utilizado para trocar conversas de cunho sexual com um suposto perfil do padre Júlio. Depois, o suposto diálogo foi gravado em vídeo e enviado à polícia de São Paulo em forma de denúncia anônima para acusar o religioso de pedofilia.
“O vídeo do padre foi produzido pelo MBL na época da campanha do Arthur. O Guto se passou por um menor de idade. Eu não estava à frente dessa situação. Mas eu vi ele fazer essa operação contra o padre”, disse Fernando Dainese à revista Piauí.
Enquanto Guto mantinha conversas com o suposto perfil de Lancellotti para produzir falsas provas contra o padre, Arthur do Val dava entrevistas dizendo que iria “desmascarar” o sacerdote.
Pouco tempo depois, em outubro, Arthur do Val, então, anunciou em uma entrevista que recebeu “em primeira mão” uma denúncia de pedofilia contra o padre. “Eu recebi, e confesso que fiquei atônito, uma denúncia muito grave sobre o Julio Lancellotti, uma denúncia de pedofilia. E é uma denúncia que consta inclusive com vídeos, não estou falando algo da boca para fora”, disse na ocasião.
Os ex-membros do MBL ainda envolveram Renan Santos, que esteve com Arthur do Val na Ucrânia quando o ex-deputado sugeriu turismo sexual e se referiu a ucranianas de forma sexista, no esquema contra Júlio Lancellotti. “Era uma estratégia eleitoral do Renan”, revelou Dainese.
A denúncia forjada contra o padre foi arquivada pelo Ministério Público em agosto de 2021 por falta de materialidade. As informações são do site Fórum.