A bióloga Cristine Prates foi surpreendida ao observar uma jiboia predando um cardeal no quintal de sua residência, situada no município de Lençóis, na região da Chapada Diamantina. Por ser uma serpente constritora, cuja tática principal não envolve o envenenamento, o animal utilizou a estratégia de asfixia para matar e devorar o pássaro.
Cristiane relatou ter ouvido um bando de gralhas-cancã (Cyanocorax cyanopogon) vocalizando alto, juntamente com outras aves, o que, segundo ela, é um sinal de alerta da presença de algum predador. Por isso, decidiu investigar o que estava acontecendo.
“Fui no quintal para ver o que estava acontecendo e a jiboia já tinha enrolado um cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana) jovem. Não interferi em nada, só fiquei filmando e esperei ela terminar de comer, ficar tranquila e seguir o próprio caminho”, relembra Cristiane.
A bióloga, especializada em aves e moradora de uma área próxima à mata, menciona ter testemunhado anteriormente a presença da serpente em sua residência. “Ela era uma jovenzinha, bem pequena (cerca de 35 centímetros) e eu, que gosto de todos os bichos, acabei deixando ela por ali, não quis tirar. Algumas vezes vi a serpente passeando pelo quintal e percebi que estava comendo muito sapo, porque aqui tem bastante”, relatou.
A profissional ainda ressalta que o fato de ter um comedouro no quintal e espalhar quirela pelo chão para alimentar aves, como o cardeal, que frequentam o solo com mais frequência, pode ter atraído a cobra até o local em busca de presas de fácil acesso.
“As aves estão acostumados a comer ali com tranquilidade, então foi uma forma que a jiboia viu de se alimentar mais fácil, principalmente de um jovem inexperiente. E é isso, às vezes a gente fica apegado com os bichinhos que a gente vê todo dia aqui no comedouro, mas faz parte da cadeia alimentar dos animais e a gente não pode interferir”, salienta a bióloga.
Segundo o especialista em serpentes Willianilson Pessoa, a jiboia possui uma habilidade impressionante de ingerir pássaros maiores com facilidade. “A mandíbula dela não é presa na articulação temporomandibular (ATM) e a parte anterior também é adaptada. Quando ela ingere algo grande, a mandíbula separa da maxila permitindo que ela aumente o tamanho da boca”, explica.
Após registrar a cena incomum em vídeo, Cristina partiu em viagem e não avistou mais a serpente. No entanto, considerando que as jiboias podem viver por até 20 anos, existe a possibilidade de retorno do réptil à residência da bióloga. Jornal da Chapada com informações do portal G1.