O Bitcoin caiu 14,9% no último fim se semana diante da escalada das tensões no Oriente Médio. O anúncio de que o Irã estava preparando um ataque de drones contra Israel subtraiu mais de US$ 10.000 do preço do Bitcoin em menos de 48 horas. Depois de atingir uma máxima de US$ 71.227 em 12 de abril, o par BTC/USD despencou até mínimas de US$ 60.660 no dia seguinte.
Além da liquidação de US$ 256 milhões em posições compradas registradas no domingo, 14, a taxa de financiamento de futuros entrou em território negativo, demonstrando que os traders profissionais estavam antecipando novas quedas. O movimento do Bitcoin mais uma vez seguiu na contramão da narrativa do “ouro digital”, que posiciona a criptomoeda como um ativo de proteção em momentos de incerteza macroeconômica e geopolítica.
Enquanto isso, o metal precioso registrou uma nova máxima histórica na sexta-feira, atingindo a cotação de US$ 2.419,79 por onça. Depois disso, recuou levemente e está sendo negociado a US$ 2.372 na manhã desta terça-feira, 16, de acordo com dados da Gold Price.
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil, os mercados acionários dos Estados Unidos também reagiram negativamente aos últimos desdobramentos da crise no Oriente Médio.
Segundo o analista independente Orlando Telles, é comum que os mercados financeiros reajam impulsivamente a turbulências geopolíticas, acrescentando que “em momentos de grande tensão, há uma recuperação em V do mercado na maioria dos casos, sendo momentos oportunos para os investidores que possuem mais experiência em meio ao pânico e a irracionalidade.”
Em seus 15 anos de existência, o Bitcoin enfrentou outros momentos de incerteza e tensões geopolíticas. Abaixo, o Cointelegraph Brasil analisa de que forma a ação de preço do Bitcoin reagiu a eventos de turbulência global que afetaram os mercados financeiros.
Crise da Crimeia (2014)
A primeira grande crise global enfrentada pelo Bitcoin ocorreu em fevereiro de 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia, que então era parte do território da Ucrânia. Na época, o criptoativo possuía uma capitalização de mercado de apenas US$ 8 bilhões e ocupava um papel marginal nos mercados financeiros.
As tensões na região começaram a escalar em fevereiro de 2014, e a anexação formal da Crimeia pela Rússia ocorreu no mês seguinte, após um controverso referendo. A ação do governo de Vladimir Putin provocou uma grave crise internacional, e resultou na imposição de sanções econômicas pela União Europeia, os Estados Unidos e outros países contra o gigante do leste europeu.
Do início de fevereiro até o final de março de 2014, o preço do Bitcoin caiu de US$ 772,53 para US$ 478,72, acumulando perdas de 38% em dois meses.
A queda ainda viria a se estender nos meses seguintes, mas é importante levar em conta que no início de 2014, o Bitcoin estava nos estágios iniciais de um ciclo de baixa, após ter alcançado a máxima histórica de US$ 1.127,45 em 29 de novembro do ano anterior. Uma recuperação efetiva só viria a acontecer no final de 2015.
Crise dos mísseis da Coréia do Norte (2017)
A segunda crise global enfrentada pelo Bitcoin se deu próxima ao auge do ciclo de alta de 2017. A crise dos mísseis da Coreia do Norte atingiu um pico de tensão em setembro, quando o país comunista do leste da Ásia realizou seu sexto e mais poderoso teste nuclear, além de uma série de exercícios militares envolvendo mísseis balísticos que sobrevoaram o espaço aéreo do Japão.
Esses eventos contribuíram para um aumento significativo nas tensões geopolíticas na região do Pacífico, mas também tiveram efeitos globais. O índice S&P 500 acumulou perdas de 1,5% na ocasião e levou 41 dias para voltar ao patamar anterior à crise, de acordo com um estudo compartilhado por Telles na edição da segunda-feira, 15, de seu boletim diário de análise de mercado.
Embora o mercado de criptomoedas estivesse em modo de euforia plena, o preço do Bitcoin recuou de US$ 4.863,19 em 31 de agosto para US$ 3.100,67 em 13 de setembro, acumulando um prejuízo de 36% em duas semanas.
Depois disso, engataria uma alta praticamente ininterrupta, a não ser por uma leve correção no início de novembro, até a máxima histórica pouco abaixo dos US$ 20.000, registrada em dezembro.
Guerra comercial EUA-China (2018-2019)
Os traders de criptomoedas ainda estavam inebriados pelas novas máximas históricas quando teve início uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. O embate teve início quando o governo do então presidente Donald Trump anunciou a imposição de tarifas sobre a importação de painéis solares e máquinas de lavar produzidas na China.
O acirramento das tensões e da guerra tarifária entre as duas maiores potências globais impactou não apenas os dois países, mas também teve efeitos colaterais em mercados emergentes e na economia global, escalando significativamente ao longo de 2018 e 2019.
O período coincidiu com o mercado de baixa das criptomoedas, após o topo de dezembro de 2017. Nos três primeiros meses de 2018, o preço do Bitcoin despencou de US$ 15.321 para US$ 6.975, acumulando perdas de 54%. O fundo do mercado de baixa ainda estava alguns meses adiante, e só viria ser alcançado em dezembro, quando o par BTC/USD chegou a US$ 3.100.
Crise do petróleo Rússia-Arábia Saudita, escada das tensões EUA-Irã e COVID-19 (2020)
O início de 2020 foi marcado pelos primeiros sinais de alerta sobre uma possível pandemia do coronavírus, mas também por dois focos de alta tensão no Oriente Médio. Por sua vez, o mercado de criptomoedas dava os primeiros sinais de recuperação após o ciclo de baixa de 2018-2019.
A escalada da rivalidade entre os Estados Unidos e o Irã atingiu um ponto crítico com o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani em uma operação militar norte-americana em 3 de janeiro. Soleimani era o comandante da unidade de elite da Guarda Revolucionária Islâmica responsável por operações militares extraterritoriais.
O ataque que resultou na morte do oficial no Aeroporto Internacional de Bagdá foi ordenado diretamente pelo então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que justificou a ação alegando que Soleimani estava planejando ataques iminentes contra o exército e cidadãos norte-americanos no Oriente Médio.
Em 19 de março, o COVID-19 foi oficialmente reconhecido como uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Em seguida, instalou-se uma crise do petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita, após o fracasso das negociações entre os membros da OPEP e o país europeu sobre cortes na produção de petróleo para estabilizar os preços da commodity diante dos desafios impostos pela pandemia.
O Bitcoin abriu 2020 cotado a US$ 7.193 e não sofreu abalos em função do atentado que vitimou Soleimani. Chegou ao mês de março em torno de US$ 8.500, mas o avanço indiscriminado do COVID-19 acabou resultando no evento que ficou conhecido como “Corona Crash.”
Na segunda semana de março, o Bitcoin caiu mais de 60%, atingindo mínimas de US$ 3.750. Porém, em seguida retomou a tendência de alta que viria a resultar na renovação do recorde histórico de preço em dezembro. Em 2020, pela primeira vez em sua história, o Bitcoin fechou um ano cotado acima de US$ 20.000.
Invasão da Ucrânia pela Rússia (2022)
As ameaças de Vladimir Putin contra a Ucrânia tiveram início no exato momento em que um novo ciclo de baixa das criptomoedas se consolidava. Após atingir a máxima histórica de US$ 69.000 em novembro de 2021, o Bitcoin estava cotado a US$ 38.663 em 24 de fevereiro, quando, após inúmeras ameaças, finalmente as tropas russas invadiram a Ucrânia.
O evento teve um impacto de curto prazo sobre o preço do Bitcoin similar ao verificado no último fim de semana. No entanto, o par BTC/USD disparou 15% nos sete dias que se seguiram à invasão, atingindo a marca de US$ 44.459. No fim do mês, chegaria ainda a US$ 47.459 antes de entrar em uma descendente que só seria interrompida em novembro, logo após a falência da FTX.
Antes disso, no começo de maio, houve o colapso do ecossistema de finanças descentralizadas Terra Luna, que provocou um efeito dominó sobre o mercado. As empresas de empréstimo Celsius e BlockFi e o fundo de hedge Three Arrows Capital deram entrada a pedidos de falência, pulverizando a capitalização de mercado das criptomoedas.
Assim, é difícil atribuir a queda do Bitcoin em 2022 à Guerra da Ucrânia, apesar das amplas sanções impostas à Rússia por muitos países ocidentais.
Perspectivas para o preço do Bitcoin diante da crise no Oriente Médio
Ao fim e ao cabo, a reação do Bitcoin a macroeventos geopolíticos está fortemente vinculada ao momento do ciclo do próprio mercado de criptomoedas. Agora, em 2024, às vésperas do halving, as expectativas são de que os abalos causados pelo ataque de Israel ao Irã tenham efeitos temporários e a tendência de alta possa ser retomada.
Em sua análise, Telles afirmou que a queda pode ter proporcionado uma boa oportunidade de posicionamento para investidores que dispunham de recursos para realizar aportes pontuais.
No entanto, ele também ponderou que a continuação do atual ciclo de alta não é um fato consumado e há três fatores que precisam ser levados em consideração daqui para frente.
No cenário geopolítico, um contra-ataque de Israel contra o Irã pode ser tomado como uma declaração de guerra, escalando o conflito entre as duas nações inimigas. Além disso, pode resultar no envolvimento direto dos Estados Unidos em ações militares. Neste caso, os desdobramentos no xadrez geopolítico global são imprevisíveis, uma vez que o Irã tem a Rússia como aliada.
Em um contexto de guerra no Oriente Médio, a tendência é que o preço do petróleo aumente, tendo reflexos sobre a economia doméstica dos Estados Unidos. Com uma pressão inflacionária persistente nos Estados Unidos, a probabilidade de que o Banco Central dos EUA (Fed) venha a cortar as taxas de juros diminui sensivelmente.
“Até o momento, o mercado ainda acredita em pelo menos um corte de juros neste ano, mas a escalada do preço do petróleo pode inviabilizar esse processo”, afirma o analista.
Por fim, há a dinâmica do próprio mercado de criptomoedas. Historicamente, o halving é um evento que antecede a quebra de novos recordes de preço do Bitcoin. No ciclo atual, uma nova máxima foi alcançada antes do evento. Embora as opiniões sobre o potencial efeito do halving sobre o mercado estejam divididas, Telles mantém uma perspectiva otimista.
E se dificilmente o ETF de Ether à vista será aprovado nos Estados Unidos, Hong Kong acaba de aprovar a listagem de fundos de índice de Bitcoin e Ethereum.
ETH R$15.723 em seus mercados de capitais.
Enquanto isso, na manhã desta terça-feira, 16, a ação de preço do Bitcoin demonstrava fraqueza e o par BTC/USD era negociado a US$ 62.283, operando em queda de 5,4% nas últimas 24 horas, de acordo com dados da CoinGecko.
Conforme noticiou o Cointelegraph Brasil recentemente, a sustentação do suporte em torno de US$ 60.000 pode ser fundamental para garantir a continuidade do mercado de alta das criptomoedas no decorrer de 2024. As informações são do site Caderno Baiano.