Naquele instante em que o tempo parece pingar, gota a gota, na ampulheta da vida, surge uma possibilidade diferente. Segundo o site Cáñamo, um caso clínico documentado no Canadá mostrou que uma única sessão de terapia assistida com psilocibina reduziu, de forma sustentada, os níveis de ansiedade e depressão em um paciente oncológico terminal.
O homem, de 51 anos, com câncer de pulmão metastático, vivia sob o peso de um sofrimento que parecia irreversível, mesmo após tratamentos psicoterapêuticos e farmacológicos convencionais. A psilocibina, administrada por via oral em ambiente domiciliar, sob supervisão de uma equipe interdisciplinar, foi antecedida por um período de preparo e seguida por integração psicológica.
O resultado foi marcante: a experiência trouxe alívio perceptível, e os indicadores de ansiedade e depressão permaneceram baixos por dois meses após a sessão.
Um alento, não uma cura
Apesar do impacto positivo, os pesquisadores alertam que a psilocibina não deve ser vista como uma solução milagrosa. O tratamento representa um sopro de vida em um cenário difícil, que exige respeito, ética e sensibilidade diante do sofrimento humano.
O papel do “set and setting”
Os autores do estudo destacam que o verdadeiro segredo do processo terapêutico está no “set and setting” — o ambiente e o preparo emocional do paciente. A substância, sozinha, não seria responsável pelos efeitos transformadores, mas pela forma como é inserida em um contexto de acolhimento e escuta.
Sentido e dignidade no fim da vida
Discutir o fim da vida vai além da busca por qualidade: envolve dignidade, sentido e conexão. A experiência relatada mostra que a psilocibina pode oferecer uma nova forma de cuidado, permitindo que o paciente encontre serenidade diante do inevitável.
Um debate que o Brasil precisa enfrentar
No Brasil, onde o acesso e a regulação de terapias psicodélicas ainda caminham lentamente, o tema ganha relevância. Mais do que uma nova fronteira científica, trata-se de uma reflexão ética sobre o direito de cada pessoa a viver — e morrer — com paz e humanidade.
Quando uma vida se aproxima do ex-tempo, a angústia do existir se torna mais visível. Permitir que alguém diga “não quero mais sofrer desta forma” ou “quero encontrar paz” exige que as práticas médicas e sociais estejam à altura desse desejo.
Jornal da Chapada














































