O Vale do Capão encerrou, no último sábado (22), a primeira edição do Expande Capão, marcada por forte participação do público e uma programação inteiramente gratuita. O encontro reuniu especialistas, terapeutas, lideranças indígenas e pesquisadores em uma série de debates que abordaram temas como território e pertencimento, uso responsável de enteógenos, medicina tradicional, cannabis e os desafios das políticas de regulação.
Durante o evento, cerca de 1.000 pessoas circularam pelo Coreto da Vila ao longo dos três dias, garantindo a presença ativa tanto da comunidade local quanto de visitantes que estavam no Vale do Capão. A proposta do encontro foi oferecer um espaço acessível para discutir ciência, espiritualidade e ancestralidade sob múltiplos olhares, ampliando o diálogo entre saberes tradicionais e pesquisas contemporâneas. Ao todo, 18 convidados integraram as mesas temáticas, contribuindo para uma programação diversa e participativa.
O Expande Capão se consolidou como mais do que um simples fórum e passou a representar um movimento de reconexão coletiva, estabelecendo-se como um espaço dedicado a aproximar saberes tradicionais e conhecimentos científicos contemporâneos. Ao promover diálogos amplos e acessíveis, o encontro fortaleceu pontes entre espiritualidade, ciência e ancestralidade, deixando uma marca significativa nesta primeira edição. O sucesso da iniciativa já impulsiona novos passos: a organização confirmou a realização da segunda edição em 2026, ampliando as expectativas para o futuro do projeto.
Vale do Capão como território de consciência
Representante da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas e um dos curadores do evento, Diogo Busse destacou que a primeira edição do evento foi um grande sucesso e trouxe reconexão com as raízes de cada um.
“O meu sentimento nesse momento é de pura e plena realização, porque o nosso objetivo foi alcançado. É gerar uma reflexão, mas também uma experiência, uma vivência de reconexão. Não se trata de uma busca, daquilo que nos fizeram a gente acreditar, o tempo todo tendo que buscar algo, entregar algo, produzir algo. Talvez seja uma lembrança e eu acho que isso foi alcançado aqui, vivenciaram uma verdadeira experiência de reconexão com as nossas raízes, com quem nós somos, na essência. A unidade, aquela essência que nos une”, ressaltou Diogo.
Para Marco Algorta, pioneiro no desenvolvimento da indústria canábica na América Latina e também curador do fórum, o evento demonstrou o interesse da comunidade em dialogar sobre ciência, ancestralidade e cuidado, superando as expectativas iniciais.
“Uma coisa que é muito melhor do que qualquer um de nós planificou, uma coisa que superou amplamente qualquer ideia pré-concebida nossa. O primeiro dia foi incrível, a fala do movimento indígena foi muito forte, muito batalhadora, o segundo dia foi falando sobre Cannabis Medicinal, vendo como todas as pessoas da comunidade estavam muito atentas ao assunto, depois veio as falas da ciência com o movimento indígena. A forma como a comunidade do Capão recebeu isso, respondeu, superou amplamente o meu maior desejo. Foi um portal de comunicação, um portal de democracia, um portal de conversa, um portal da comunidade, abraçando um projeto, foi maravilhoso”, pontuou Algorta.
A programação do Expande Capão aconteceu de forma paralela ao tradicional Capão in Blues, que movimentou o feriado da Consciência Negra no Vale. Os debates e mesas aconteceram no turno da tarde, enquanto os shows do festival ocupavam a noite, criando uma experiência inédita que combina conhecimento, arte e celebração.
O repertório das palestras
No primeiro dia do evento, o fórum contou com a participação de Dra. Cecília Nizarala, a multiartista e pesquisadora das medicinas da floresta Cris Nishimori; o jovem nativo do Capão e líder bantu Ayrã Nery; e o terapeuta e dirigente espiritual Jarbas Rodrigues Júnior, que abriram o encontro discutindo território, pertencimento e práticas seguras com enteógenos.
A programação também reuniu nomes de referência no diálogo entre ancestralidade e ciência, como Daiara Tukano, artista e cofundadora da Conferência Indígena da Ayahuasca; Dra. Adana Omágua Kambeba, primeira médica do seu povo; Glauber Loures de Assis, fundador da igreja do Santo Daime Céu da Divina Estrela e Jairo Lima, indigenista e conselheiro sênior do Instituto Yorenka Tasorentsi, vozes centrais no debate sobre biocultura, reconhecimento e equidade.
No segundo dia, compondo o eixo comunicação e ciência, participaram Tábata Gerk, especialista em terapia e integração psicodélicas; Iago Lôbo, psicólogo e fundador do observatório Micélio de Notícias; e a jornalista Caroline Apple, que discutiram como ampliar o diálogo social sobre psicodélicos.
Em seguida, a Dra. Mariane Ventura, médica prescritora canábica, e Leandro Stelitano, fundador e presidente da Associação para Pesquisa e Desenvolvimento da Cannabis Medicinal (CANNAB), aprofundaram os caminhos para uma regulação justa, eficiente e baseada em evidências.
A sexta-feira ainda trouxe um encontro marcante entre a psicodelia brasileira e a academia, com os neurocientistas Dr. Dráulio Barros de Araújo e Dra. Fernanda Palhano-Fontes, além das participações de Daiara Tukano e Dra. Adana Kambeba, refletindo sobre como aproximar ciência e sabedoria ancestral.
No sábado, a mesa “Novos modelos: famílias psicodélicas”, reuniu Glauber Loures de Assis, Adana Kambeba e Marco Algorta. O debate abordou práticas comunitárias, afetivas e intergeracionais de cuidado. Na sequência, a mesa “Integração e preparação: o antes e o depois da experiência” reuniu Iago Lôbo, Tábata Gerk e Dra. Cecília Nizarala, que destacaram a importância dos cuidados prévios e posteriores a rituais, terapias ou cerimônias.
Fechando o dia, a mesa “Regulações do futuro: queremos regular os psicodélicos?” trouxe Augusto Vitale, psicanalista que atuou ao lado de José Mujica e Júlio Calzada no processo que fez do Uruguai o primeiro país do mundo a legalizar a maconha, Jairo Lima, Diogo Busse e Dra. Mariane Ventura em uma conversa sobre políticas públicas que conciliem saberes tradicionais, garantam segurança e evitem retrocessos.
“Foi muito importante esse processo de discussão da regulamentação das chamadas substâncias psicodélicas que, no caso da Ayahuasca, prefiro chamar de biocultura. Isso é importante porque nos ajuda, com base nos dados que eu apresentei, a percebermos a amplitude da globalização da Ayahuasca e a necessidade de traçar, ao menos, certos acordos éticos para que possamos, a partir daí, construirmos todo um processo participativo e coletivo de regulação, se for necessário”, comentou Jairo.
Sobre o Expande Capão
O Expande Capão tem organização e coordenação da Viramundo Produções, com produção executiva da Trevo Produções, além do apoio da Prefeitura de Palmeiras e patrocínio da aLeda.
A aLeda levou ao Vale do Capão uma ativação que aproximou ainda mais a marca do público. Durante os três dias de evento, representantes distribuíram produtos, apresentaram novidades e interagiram diretamente com visitantes de todas as idades. A ação reforçou o compromisso da marca com iniciativas que promovem informação, cuidado e liberdade. As informações são de assessoria.




















































