O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) foi a última pessoa a prestar depoimento à CNV (Comissão Nacional da Verdade), na manhã desta segunda-feira (8), na sede do instituto que leva seu nome. O relatório final da comissão será divulgado na próxima quarta (10). Respondendo a perguntas de dois membros do grupo, a psicanalista Maria Rita Kehl e o sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, Lula falou por cerca de uma hora. Ele se concentrou basicamente em dois momentos: as greves que comandou no ABC Paulista no fim dos anos 1970 e a vez em que foi preso, em 1980.
Entre 19 de abril e 20 de maio daquele ano, o então líder sindical ficou preso na sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) após a Justiça considerar que o movimento comandado por ele era ilegal —em 11 de maio, ele saiu temporariamente para participar do velório da mãe, Eurídice, morta por um câncer.No ano seguinte, foi condenado pela Justiça Militar a três anos e seis meses de detenção por incitação à desordem coletiva, mas a sentença acabou anulada em 1982. “Os militares cometeram a burrice de me prender”, disse o ex-presidente aos membros da CNV.
Segundo Pinheiro, que acompanhou o depoimento, Lula disse que não chegou a ser interrogado no período —respondeu perguntas apenas por escrito— e não sofreu violência física. “A fala de Lula foi muito interessante porque revelou detalhes que não se sabia”, disse o sociólogo.
PRESIDENTES
Na semana passada, o também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) falou à CNV sobre a perseguição que sofreu no período militar. “Estão servindo caviar, mas é amargo, porque o exílio é o exílio. É amargo porque você vive a maior parte do tempo imaginando o que está acontecendo no seu país e na expectativa de que tudo vai mudar”, disse. A ideia de fazer com que os depoimentos de Lula e FHC fossem os últimos prestados ocorreu, segundo Pinheiro, para ressaltar o apoio que ambos deram à criação da comissão em seus respectivos mandatos. Extraído da Folha de São Paulo.