A Chapada Diamantina é, de fato, o coração de ouro da Bahia. Há 200 anos, saía desta região toneladas de ouro e diamante para a Europa e para o mundo, gerando uma riqueza como nunca mais se viu. Hoje, o tesouro que resta na Chapada é seu incomparável patrimônio natural. Mas o que poucos sabem é que a Chapada Diamantina nada mais é do que uma continuação da Serra do Espinhaço mineira, que avança pelo centro do país rumo ao norte.
Cheia de altos e baixos durante seu caminho, a serra encontra no município de Rio de Contas o lugar exato para voltar a seu esplendor. Aos pés da cidade, a serra se eleva por um grande paredão a mais de mil metros de altura, criando dali em diante um gigantesco complexo de serras, vales, campos rupestres, cavernas, cânions e cachoeiras de fazer inveja a qualquer outra chapada.
Rio de Contas é a cidade mais antiga da Chapada Diamantina, possuindo um dos três conjuntos arquitetônicos coloniais mais importantes e belos da Bahia, é uma verdadeira cidade-museu. Ela abriga quase 300 construções históricas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), entre elas a Igreja Matriz, com seu altar folhado a ouro, e o Teatro São Carlos, o primeiro do interior baiano.
As suas casas e ruas de pedras são muito bem conservadas e passam um delicioso clima de aconchego e tranquilidade. Cidade opulenta nos tempos do ouro, hoje volta a se destacar com o turismo ecológico. Com diversos atrativos naturais em seu entorno, o município é detentor dos picos mais altos do Nordeste: o do Barbado, do Itobira e das Almas.
O mais alto é o Pico do Barbado, que tem 2.033 metros e fica entre Rio do Pires, Abaíra e Piatã – esta última, aliás, cidade famosa pelo clima serrano com que festeja seu São João. Os outros dois são o Pico do Itobira, com 1.970 metros, e o Pico das Almas, com 1.958 metros, ambos em Rio de Contas. Os três podem ser alcançados em caminhadas que levam a visões incríveis de toda a Chapada sul.
Mas foi o Pico das Almas que se tornou a menina-dos-olhos de Rio de Contas. Para chegar ao seu topo, são três horas a pé no meio de formações de quartzito que afloram da terra, orquídeas, bromélias e uma vegetação única. O pico atraiu, em 1974, uma equipe do Jardim Botânico de Londres, o Kew Gardens, que fez um levantamento de 1.200 espécies de plantas, 100 delas endêmicas – o que faz do Pico das Almas um dos lugares de maior biodiversidade da América do Sul (proporcional ao seu tamanho, claro). Uma riqueza que já foi comparada à da Floresta Amazônica. Os ingleses, pelo visto, já sabiam o que nós levamos 30 anos para descobrir: que há muito mais tesouros enterrados no coração dourado da Bahia do que nós pudemos imaginar. E nem todos são pedras preciosas.
Depois deste longo panorama sobre a cidade, já deu para perceber que esse texto é mais uma matéria da série de trekking na Chapada Diamantina. Pois é! Esse roteiro é especial para os amantes do montanhismo e grandes travessias. Vamos falar sobre a travessia que tem como meta subir os três picos mais altos do Nordeste: Almas, Itobira e Barbado. Este roteiro é singular, são aproximadamente 43km com um grau de dificuldade de moderado a difícil, onde se enfrentará altitudes elevadas, baixas temperaturas e ainda conhecer pequenos povoados e comunidades agrícolas encravadas nas serras e vales pouco conhecidos da região.
1º dia – Rio de Contas, Pico das Almas, Vale do Queiroz
Saída de Rio de Contas pela manhã, em direção à Fazenda Silvana, onde irá iniciar a trilha até o Vale do Queiroz, local do acampamento. De lá segue a trilha por cerca de 1h20 até chegar ao Portal das Almas, uma paisagem diferente de tudo que a Chapada Diamantina oferece, com pedras pontiagudas de diversos tamanhos por todas as partes. No trecho final há uma ‘escalaminhada’ pela parte mais íngreme do maciço que leva ao cume, são aproximadamente 3h de subida até chegar aos 1.958 metros de altitude do Pico das Almas, com uma bela vista panorâmica da Chapada Sul. A volta descer pela mesma trilha e retornar para o acampamento base, no Vale do Queiroz.
2º dia – Vale do Queiroz, ponte do Coronel, fazenda Caiambola, Pico do Itobira
Voltar pela trilha até a fazenda Silvana, de onde estará um carro de apoio, seguir de carro, com uma parada para tomar um banho de rio na ponte do Coronel. Seguir rumo a Caiambola, onde inicia a trilha. Dando a volta em um grande capão de mata ao sopé do Pico do Itobira, a trilha segue por um gerais, repletos de flores e gramíneas. Após cerca de 1h30 de caminhada, chega-se a base do Pico do Itobira, a trilha segue pra cima, com uma bela vista para os campos desertos da Chapada Sul. Seguir por cerca de 1h de subida, onde irá chegar aos 1.980 metros de altitude da segunda montanha mais alta do Nordeste brasileiro. Há duas opções depois neste roteiro, dormir no cume (se a previsão for boa) ou dormir na base, próxima à água.
3º dia – Pico do Itobira, Lapa da Mutuca, Vale do Guarda Mor
Descer do cume e seguir rumo à Lapa da Mutuca, a partir daí começa um dos trechos mais difíceis e contemplativos da trilha, passando pela Lapa da Mutuca, e seguindo até o Guarda Mor, onde será o pernoite.
4º dia – Catolés, Pico do Barbado, Catolés, Piatã
Pela manhã, subir uma trilha pelas escarpas da Serra do Barbado cerca de 2h até um lugar chamado Forquilha da Serra, um tipo de passo entre a Pedra do Elefante e o Pico do Barbado. A partir deste ponto seguir por cerca de 20 minutos até o Pico do Barbado, o cume da montanha mais alta do Nordeste brasileiro, com 2.033 metros de altitude. Com vista 360º para os Picos do Itobira e das Almas, para a Serra da Tromba e Três Picos em Piatã, e ainda ao horizonte a serra do Sincorá, podendo avistar o morro do Pai Inácio e o Morrão. Após contemplação e fotos no Cume, a trilha desce cerca de 2h para o povoado de Catolés de Cima. Onde um carro irá levar até a cidade de Piatã.
Confira mais imagens das trilhas:
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