Ainda ressentido pelo processo de cassação do seu mandato de senador da República, Delcídio do Amaral (sem partido – MS) criticou a condução dos trabalhos sobre a questão e a postura do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). “O Senado é presidido por um cangaceiro, Renan Calheiros. Ele tem relações condenáveis”, afirmou em entrevista ao programa Roda Viva, na TV Cultura nesta segunda-feira (16). “Estava com cirurgia marcada no Hospital Sírio Libanês e diziam que eu estava me escondendo atrás de licença médica. Não tive acesso ao aditamento da minha denúncia. Ele ainda demitiu meu chefe de gabinete e o assessor de comunicação”, acrescentou.
Delcídio se emocionou ao falar da carta que sua filha publicou no Facebook detalhando as consequências desastrosas da sua prisão para a família. Aos jornalistas, ele contou como o governo do PT aparelhou a Petrobras para o esquema de pagamento de propinas e desvio de dinheiro. “A diferença para os presidentes anteriores é que começou a haver participação sistêmica e partidária”. Ele lembrou que, pela experiência que tinha como executivo da Petrobras e Eletrobras, foi consultado pelo ex-presidente Lula sobre indicações de alguns cargos. “A Lava Jato está passando o Brasil a limpo, mas está faltando pegar o núcleo político, o pessoal do andar de cima. No Mensalão, não contaminamos o país. O país continuou a andar”, confessou.
Enquanto líder do governo no Senado, Delcídio disse ter alertado a presidente Dilma Rousseff (PT) por diversas vezes que as investigações da Polícia Federal afetariam o Palácio do Planalto, mas afirmou que ela foi aconselhada pelo ex-ministro Mercadante a ignorar a questão. “Ele dizia que a Lava Jato chegaria até ao presidente Lula, mas não a tocaria. A estratégia inicial era deixar o trem andar, mas quando a água chegou no pescoço começou a obstrução de Justiça”, relatou. “O impeachment é só a pedalada? O pano de fundo é a Lava Jato. A pedalada é só uma das questões”.
Delcídio ainda fez prognósticos sobre os destinos do Partido dos Trabalhadores, do ex-presidente Lula e da presidente afastada Dilma Rousseff. “Ela não vota mais. Vai para a aposentadoria. Perdeu as condições políticas de governo. O PT é forte orgânico, mas perdeu seu brilho e precisa fazer uma revisão. Tem que ter humildade. Rui Falcão é uma figura bizarra, não tem dimensão para comandar o partido. Lula sai muito desgastado desse processo. Acho difícil uma candidatura competitiva. Ele não é mais o principal candidato, o cerco se fechou, a situação dele é crítica.
Também não faltaram críticas ao presidente em exercício Michel Temer (PMDB). “Tem um grande desafio pela frente, mas alguns ministros que estão assumindo são fraquinhos, a exemplo do de Minas e Energia, área que eu conheço bem. Tem que colocar gente que saiba. Temos que torcer para que dê certo. Temer não tem base nenhuma social. Ele vai precisar de coragem para tomar medidas duríssimas”, concluiu. A redação é do site Bocão News.
Assista a entrevista completa da TV Cultura aqui: