Alimentação com predominância de alimentos processados, os fast-foods e o sedentarismo causado pelos longos períodos diante das telas de equipamentos eletrônicos são ingredientes para a obesidade infantil, cujo risco cresce se estiverem presentes o fator hereditário e o desmame precoce, já que a doença é multifatorial. Ao analisar essa realidade para uma reflexão no Dia da Conscientização Contra a Obesidade Mórbida Infantil (3 de Junho), que transcorre nesta sexta-feira, a endocrinopediatra e presidente do Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Diabetes e Endocrinologia da Bahia (Cedeba), Renata Lago, enfatiza: “ a situação só vai mudar quando a comida não saudável for muito cara, além de as escolas também participarem da educação alimentar de suas crianças e adolescentes”.
E a obesidade infantil, que nem sempre preocupa os pais quando se instala muito cedo, porque o bebê é fofinho, torna-se um problema mais grave no final da infância e, principalmente, na adolescência. Segundo Renata Lago, “quando chegam ao consultório, os pacientes têm vergonha de tirar a roupa. No caso dos meninos, o problema é ainda maior porque o pênis se esconde no tecido gorduroso, causando complexo”. Os adolescentes com obesidade, segundo a endocrinologista, têm problemas de pele com mais frequência, muitos causados por fungos, produzindo um odor desagradável, agravando as dificuldades para o desabrochar da sexualidade.
Risco de diabetes e enfarte
O crescimento da obesidade na infância e adolescência, que atinge todo o mundo, de acordo com Renata Lago, é um desafio porque tem contribuído para o aumento dos casos de diabetes tipo 2 na adolescência, hipertensão e até risco de enfarte, cuja média de idade vem caindo, segundo dados do IBGE. Já o Estudo Érica, realizado no Brasil entre 2013 e 2014, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com alunos do sétimo ano ao terceiro do ensino médio, de escolas públicas e privadas de 27 estados e 32 municípios, na faixa etária dos 12 aos 17 anos, apontou taxa de sobrepeso de 17,1% no país e de 15,3% no Nordeste, enquanto o percentual de obesidade infantil foi de, respectivamente, 8,4% e 7,4 %.
De acordo com a endocrinologista, um achado preocupante no Estudo Érica é a maior presença de obesidade na população das pequenas cidades e a taxa elevada de síndrome metabólica, em que a obesidade está associada a um ou mais fatores: dislipidemia (aumento do colesterol e triglicérides), aumento da circunferência do abdômen, hipertensão arterial, diabetes ou pré-diabetes. Em 1997, segundo o Estudo Nacional de Saúde Escolar, realizado pelo IBGE, a obesidade na faixa etária de 13 a 15 anos no Brasil era de 5,5% e o sobrepeso de 22,7%. Atualmente a classificação para a infância é de sobrepeso, obesidade e obesidade severa. Embora o termo obesidade mórbida esteja em desuso, o 3 de Junho continua no calendário da Saúde como o Dia da Conscientização contra a Obesidade Mórbida Infantil.
Mudanças já
A endocrinopediatra do Cedeba defende a necessidade de alimentação saudável para conter a obesidade na infância. Segundo ela, hoje as crianças consomem muitos alimentos processados na merenda escolar, como o macarrão com salsicha, por exemplo. De acordo com Renata Lago, também é importante reduzir o tempo da criança em frente à tela, limitando a duas horas por dia. “Hoje a criança fica a maior parte do seu dia presa à televisão e mesmo quando está na escola não aproveita o tempo livre para brincar, mas para teclar no smartphone. Por tudo isso, o aumento da obesidade na infância e adolescência continua crescendo e ameaçando a saúde”, alerta.