A região da Chapada Diamantina volta a sofrer com incêndios florestais. Essa semana, ao menos cinco municípios da região e das proximidades registraram focos que foram combatidos por brigadistas voluntários, equipes do Corpo de Bombeiros Militar da Bahia, e por agentes estaduais e municipais. Rio de Contas, Barra da Estiva, Lençóis, Ituaçu e Livramento de Nossa Senhora, já no sudeste baiano, foram afetados pelas chamas que consomem a fauna e a flora das localidades. A situação ressuscita o debate sobre prevenção e plano de atuação para os combates. É o que afirma o presidente dos Combatentes de Incêndios Florestais de Andaraí (Cifa), Homero Vieira, em contato com o Jornal da Chapada neste domingo (5). Ele acompanha os registros e a atuação na luta contra o fogo.
Vieira é conhecido na região por suas críticas aos governos estadual e federal, que, segundo ele, não direcionaram para o setor correto a incumbência de combater fogo na Chapada Diamantina. Conforme Homero, o combate deveria ser feito pela Defesa Civil do estado, com auxílio do Exército, Corpo de Bombeiros ou da Força Aérea [atualmente a Secretaria de Meio Ambiente e o Corpo de Bombeiros são responsáveis]. “Estamos no mato sem cachorros. Depois dos incêndios de 2015, o governo baiano, em diversas notas, se vangloriava dizendo que estava fazendo reuniões e mais reuniões com o intuito de elaborar um planejamento de combate e prevenção. Cadê o planejamento? A realidade é que hoje muitas brigadas se encontram sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e a Chapada não dispõe de nenhum planejamento”, dispara o presidente da Cifa, em contato com o Jornal da Chapada.
“Os contratos dos brigadistas tanto do ICMBio quanto do PrevFogo-Ibama terminaram. Então estamos dependendo das brigadas voluntárias para o combate inicial”, diz o brigadista. Homero completa dizendo que espera um plano de ação há 27 anos. “É igual a campanha política, depois de um grande incêndio, o governo promete, promete e nada acontece. A única coisa que mudou foi a vinda de uma aeronave. O que é bom, mas uma grande parte das brigadas e brigadistas não dispõem sequer equipamentos para o combate inicial. Fora a questão de locomoção que é um entrave, mas que é resolvido com diálogo nos municípios. A indústria do fogo, a cada dia, fica mais especializada. Nem estamos na temporada de maior concentração de focos, imagine quando chegar?”, questiona.
Ideia de campanha
Cansado de esperar há mais de 27 anos por um plano de combate e atuação conjunto dos órgãos competentes, o presidente da Cifa sugere uma campanha para chamar a atenção da população do Estado sobre o que acontece na região. “Não vamos ficar parados vendo a cada ano nossa biodiversidade ser apagada pelas chamas dos incêndios florestais. Convoco a todos para tornar real a ideia de promovermos um show em Salvador com a presença de diversos artistas simpáticos à nossa causa”, aponta.
De acordo com a proposta de Homero, esse show tem a finalidade de arrecadar recursos ou equipamentos para as brigadas da Chapada Diamantina. “Vamos fazer essa corrente, afinal todo mundo tem um amigo que tem um amigo que conhece um grande artista. Tudo que for arrecadado deve ser depositado em uma conta do Ministério Público para que posteriormente seja entregue às brigadas voluntárias”, frisa.
Combate em Rio de Contas
O grande incêndio que atinge as regiões de Livramento de Nossa Senhora e Rio de Contas, já na Chapada Diamantina, desde a última quinta-feira (2), segue sendo combatido. Em contato com o Jornal da Chapada, neste domingo (5), a técnica em fiscalização ambiental de Rio de Contas, Dilcileia Anjos, da Secretaria de Meio Ambiente do município, informou que o fogo ganhou proporções e que os combates foram ampliados. As chamas atingem o Parque Natural Serra das Almas (PNSA), no caminho para o Pico das Almas.
“Hoje [domingo] foram para o combate 10 bombeiros [militares], mais os brigadistas da brigada ‘Gaviões da Chapada’, de Rio de Contas, e realmente o fogo tomou uma proporção grande. A comunidade de Itaguaçu, do município de Livramento de Nossa Senhora, está sem água porque os canos foram queimados. Vamos fazer um sobrevoou para saber como está a situação”, aponta a técnica em fiscalização ambiental, completando que terá mais informações sobre o fogo após o sobrevoou. Estão indo para o combate também, os brigadistas de ‘Ouro Verde’, da cidade de Abaíra.
Jornal da Chapada