Um tipo de rapé indígena, característico da Amazônia, está ganhando popularidade em São Paulo. Principalmente entre frequentadores de bares e baladas alternativas na capital. O rapé é composto de ervas, cascas de árvores e outras plantas tradicionalmente usadas por tribos indígenas da América do Sul há milhares de anos. Alguns tipos têm plantas com substâncias psicoativas, que podem causar de relaxamento a estado de êxtase e até alucinações.
São esses efeitos que têm atraído adeptos, que usam rapé tanto em casa quanto em baladas. Várias versões de rapés têm plantas que contêm DMT (dimetiltriptamina), alucinógeno proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O DMT é a substância ativa do chá da ayahuasca, usado em rituais indígenas e da seita do Santo Daime. Apenas o uso religioso da ayahuasca é permitido.
O uso recreativo desse tipo de rapé é, em tese, proibido, mas ele é facilmente confundido com rapé autorizado; alguém pego inalando pode alegar que o uso é religioso; e a fiscalização do produto é praticamente nula.
O advogado Glauco Paone, 52, diz usar rapé esporadicamente, em bares na Vila Madalena (zona oeste) e na praça Roosevelt (centro). “Experimentei pela primeira vez no ano passado e gostei do relaxamento e do torpor”, diz. “Gosto de usar na balada, dá uma boa acalmada, mas prefiro usar em casa”.
Danos
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira Filho, professor da Unifesp, diz que o rapé da Amazônia com DMT não deve ser usado recreativamente. “No uso ritualístico há a possibilidade de uma crise de ansiedade e, em pessoas com predisposição, há até o risco de um surto psicótico”, disse o psiquiatra. “Há também elevação da pressão e batimento cardíaco”.
O cacique Txuã Huni Kuin, 40, da aldeia Huni Kuin do Acre, também é contrário ao uso recreativo do pó. “O rapé é usado em rituais de cura e purificação. O rapé é sagrado para o meu povo. É um presente da sabedoria do Huni Kuin para o homem branco. O pajé é um médico. A universidade dele é a floresta. É lá que ele aprende tudo, desde criança, o valor de cada planta. Não tem dinheiro que compre essa sabedoria”, disse ele. Jornal da Chapada com informações da Folha de São Paulo.