Após entender que Michel Temer (MDB) pode ser investigado por fatos anteriores ao mandato de presidente, a procuradora-geral da República Raquel Dodge decidiu incluir a delação do operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro, que cumpre prisão domiciliar por condenação na operação Lava Jato, em um dos inquéritos contra o emedebista, cujo foco principal é o recebimento de propina paga pela Odebrecht em 2014. Por isso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin a inclusão do quinto termo de depoimento de Lúcio Funaro naquele inquérito.
A solicitação foi autorizada por Fachin em decisão sigilosa do último dia 13 de março, que determinou juntar o depoimento de Funaro e os documentos de corroboração. Fachin, porém, determinou que a parte relacionada ao operador financeiro fique sigilosa, porque a delação ainda está sob sigilo. Também são investigados no caso os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência).
Esse depoimento de Funaro traz esclarecimentos sobre um dos principais episódios que envolvem o inquérito: a entrega de dinheiro da Odebrecht ao advogado José Yunes, amigo de Temer, em seu escritório em São Paulo. Em depoimento à PGR, Yunes havia dito que recebeu um envelope de Funaro a pedido de Padilha. No seu relato, Funaro traz outra versão: diz que foi buscar uma caixa contendo R$ 1 milhão no escritório de Yunes, para entregar ao emedebista Geddel Vieira Lima –atualmente preso após a Polícia Federal ter encontrado R$ 51 milhões em um apartamento ligado a ele.
Além de permitir o aprofundamento desse ponto da investigação, o pedido de Raquel Dodge para incluir o depoimento de Funaro atinge em cheio Michel Temer, porque esse depoimento específico é extenso em acusações ao emedebista. O operador financeiro diz, por exemplo, que o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) distribuía propina a Temer e que o presidente se beneficiava com repasses de empresas que obtinham recursos da Caixa Econômica Federal.
A inclusão de Temer como investigado no caso, pedido feito por Raquel Dodge e já autorizado pelo ministro Fachin, causou desconforto no Palácio do Planalto. O emedebista chegou a enviar uma carta à PGR se queixando da iniciativa. Isso porque o antecessor de Dodge, Rodrigo Janot, tinha um posicionamento diferente: de que o presidente não poderia ser investigado por atos anteriores ao exercício do mandato. Para Raquel Dodge, o presidente não poderia ser processado, mas pode ser investigado, porque senão as provas podem se perder.
Temer já negou irregularidades no episódio e tem afirmado que jamais recebeu recursos ilícitos para suas campanhas. Seu advogado não foi localizado para comentar. Procurado, o advogado de Padilha, Daniel Gerber, afirmou que “a menção indireta e genérica ao nome do ministro apenas deixa claro que não existe participação de sua pessoa em qualquer dos fatos investigados pela Operação Lava Jato”. O advogado de Moreira Franco, Antônio Pitombo, não comentou. Com informações do site do jornal O Globo.