A policial militar baiana Lady Oliveira, de 40 anos, vem se preparando nos últimos dias para encarar mais um desafio na vida. Mas não se trata de nenhuma operação de risco, que envolva viaturas e embate com suspeitos. Ela está focada para participar da 8ª edição do concurso nacional Miss Bumbum e tentar, com o evento, chegar mais perto de conquistar um sonho de infância: alavancar a carreira artística. Licenciada em educação física, pós-graduada em segurança pública e policial militar há 19 anos, Lady é a única representante da Bahia e terá de desbancar outras 26 candidatas para vencer o concurso, que realiza a última edição em 2018.
A votação online, em que internautas podem escolher as melhores participantes, será aberta no dia 6 de agosto no site do evento. Somente 15 passam para a grande final, marcada para o dia 5 de novembro. A escolha da vencedora será feita por uma banca de jurados. Dona de um quadril de 103cm, Lady está confiante e diz ter certeza de que irá para a final. “Com certeza, fico entre as 15 finalistas. E estou me preparando para isso. Acompanho o concurso desde 2012, quando virei fã da Andressa Urach, que foi vice-miss bumbum na ocasião. Ela buscava o sonho dela e eu me identificava muito com seu jeito corajoso”, destacou.
Em 2017, Lady perdeu o prazo das inscrições e ficou de fora do concurso, mas esse ano ficou atenta.PM diz que, inicialmente, não se enxergava no perfil do que considerava uma miss bumbum, mas que depois foi percebendo que tinha potencial. “No início, achava que para ganhar precisava ter bundão e nem me via nesse perfil. Achava que eu não pertencia ao ‘mundo das deusas’, mas, na verdade, ao analisar o perfil das vencedoras descobri que o que é preciso mesmo é ter carisma e um bumbum bonito, bem cuidado, bem tratado, um corpo harmonioso. Nenhuma das vencedoras tinha realmente um bumbum grande. Todas tinham, no máximo, 90 cm de quadril, e eu tenho 103 cm. Foi assim que pensei bem e decidi arriscar”, conta.
O Miss Bumbum 2018, no entanto, não é o primeiro concurso que Lady participa. Disputou, em 1997, a seletiva que elegeria a morena do grupo de pagode baiano É o Tchan. Não ficou entre as primeiras colocadas e viu a dançarina Sheila Carvalho vencer a competição. “Como sempre quis ser artista, visitei muitas agências de modelo na adolescência, mas nunca dava certo. Na verdade, não sei como funcionavam. Recentemente, também participei dos concursos para Rainha do carnaval de Salvador dos anos de 2011 e 2018, só que não fui selecionada. Além disso, disputei uma competição de fisiculturismo em Camaçari em 2015 e fiquei em quarto lugar”, lembra.
Quando criança, Lady também fez aulas de dança, de teatro, de canto. Chegou até a ser backing vocal e dançarina de pequenas bandas que se apresentavam em Salvador. “Eu fazia porque gostava, nunca recebi um centavo em troca”, lembra. Paralelamente ao Miss Bumbum, está na disputa para ser a representante do Esporte Clube Vitória no concurso de 2018 que irá eleger a Musa do Brasileirão. Lady não esconde que é muito vaidosa. Para ganhar as duas competições, faz dieta, musculação e tratamentos estéticos. Diz que grande parte da renda mensal como policial é para manter a beleza e permanecer com a “autoestima elevadíssima”.
“Estou bem confiante. Estou ligada na alimentação e treino de 1h a 2h todas as noites, depois do expediente. Também faço tratamentos estéticos, massagem, de tudo eu faço, tanto no abdômen quanto no bumbum, para estimular o colágeno e deixar mais durinho. Gasto muito também com maquiagem, perfumes, suplementos. Invisto muito nisso. Espero que consiga alcançar os objetivos e que venham muitos trabalhos, muitos contratos. Força de vontade não falta”, garante. Inserida em um meio em que homens ainda são maioria, atualmente apenas 14,8% do efetivo da PM da Bahia é formado por mulheres, Lady diz que recebe apoio dos colegas.
“Não recebi nenhuma crítica por ser policial e ao mesmo tempo estar num concurso de miss bumbum. Ao contrário, os colegas me apoiam, torcem por mim e ainda fazem divulgação para que eu possa conseguir votos. Dizem que se sentem representados por mim”, afirma. Mãe solteira, Lady criou sozinha os dois filhos, um de 12 e outro de 17 anos, frutos de relacionamentos diferentes. “Não tenho carro e a minha casa ainda não tem porta e nem janela. É só cortina. Construí embaixo da casa da minha mãe e espero, com o concurso, ganhar dinheiro para terminar minha casa e dar uma vida melhor para a minha família”, diz.
Entrou para a Polícia Militar aos 21 anos, em agosto de 1999, para tentar realizar outro sonho de infância. “Desde pequena, eu sempre tive vontade também de ir estudar e trabalhar no Canadá. Então, decidi ser policial para juntar dinheiro e ir morar lá. Com o passar do tempo, no entanto, passei a gostar da minha profissão aqui, tive filhos, e estou aqui até hoje”, conta.
Lady começou como soldado e, em novembro de 2017, foi promovida a cabo. Antes de entrar para a polícia, Lady trabalhava como caixa em um shopping. Aproveitava as horas vagas para fazer cursinho para se preparar para o concurso da corporação. Minha irmã já tinha entrado na polícia em 1996. Um ano depois eu fiz o concurso para sargento e não passei. Em 1999, tentei de novo. Fiz para soldado e fui aprovada. Passaram mil candidatas e eu fiquei na 33ª colocação”, lembra.
Hoje, integra o Comando de Policiamento Especializado (CPE), grupo que usa farda igual ao do Batalhão de Choque da PM. Quando está nas ruas, faz o policiamento no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. “Somos um grande comando e todas as demais unidades são subordinadas a gente. Eu trabalho no setor pessoal, na parte administrativa, mas faço um extra servindo na rua também. Além disso, ainda tiro serviço extra dando aula de atividade física pela polícia”, conta.
Lady não esconde que a atividade que exerce nas ruas é perigosa, mas diz gostar do que faz. “Nesse tempo todo na PM, já fiz muitas coisas. Já fiz serviço de viatura, já trabalhei exclusivamente na rua. E sempre dá aquele medo nas ocorrências, porque a gente não sabe o que vai encontrar, mas ainda assim prefiro o serviço de rua, porque você também tem mais contato com as pessoas, fica mais atualizado sobre o que acontece. Na parte interna, a gente acaba ficando mais fechado”, diz.
Ela ainda não abandonou o sonho de um dia morar fora do Brasil, mas conta que também não deixa de querer sempre dar um passo a mais na carreira de policial. “Hoje, diria que se fosse para ir para o Canadá seria só para conhecer mesmo. Meus filhos têm sonho de morar fora, só que, agora, pensamos em, quem sabe um dia, ir para a Holanda. É um país desenvolvido, com bons índices de educação e que oferece boas oportunidades no mercado de trabalho. Aqui no Brasil, no entanto, o que pode acontecer ainda no ano que vem é eu ser promovida a sargento. E se abrir concurso de oficial, também pretendo fazer. Enquanto eu estiver aqui, farei de tudo para crescer na corporação. Quando tiver chance de ir embora, vou”, conta. As informações de G1BA