Vergonha, medo, muito medo! Sem condições emocionais e financeiras, mulheres do campo são vítimas, diariamente, de violência doméstica, fruto de uma cultura de subserviência, menosprezo e desvalorização. Vivendo nos rincões do Brasil, afogam no silêncio a dor de não poderem gritar a sua independência.
Distante dos grandes centros, fora do raio de visão do Estado, a ausência de delegacias especializadas, informação, apoio e a total invisibilidade dá um contorno ainda mais cruel a este tipo de crime e dificulta a realização de denúncias. Talvez pela dificuldade de mapeamento, a última pesquisa sobre o assunto, divulgada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), seja de 2008.
Naquele ano, 55% das entrevistadas declararam ter sofrido alguma agressão ou abuso sexual, 63% por parte do marido ou companheiro, normalmente alcoolizados ou sob efeitos de drogas. Maria Pereira, 54, lembra ainda com dor os anos que viveu sob o jugo da violência emocional, psicológica e física em 21 anos de casamento, vividos em um povoado do semiárido baiano.
Vinda de uma família com 10 mulheres, afirma que todas as irmãs também já sofreram algum tipo de violência e que nenhuma delas teve coragem para denunciar as agressões. “Eu e uma outra irmã conseguimos nos separar, mesmo com todos julgamentos, inclusive da própria família. As outras continuam casadas com seus agressores”, lamenta.
“É preciso um olhar direcionado e carinhoso para essas mulheres. A cultura machista é aprisionadora e submete essas mulheres a uma condição humilhante, onde não há espaço para independência financeira e, muito menos, emocional. A visão ainda é de que o marido é o chefe e pode tudo”, destaca a ex-prefeita do município de Cardeal da Silva e presidente duas vezes da União dos Municípios da Bahia (UPB), Maria Quitéria.
Quitéria, que recentemente se afastou da presidência da Fundação Luís Eduardo Magalhães (FLEM) para cuidar de sua candidatura à deputada federal, sinaliza para a desigualdade de condições e a falta de informação vivida pelas mulheres daqueles interiores mais distantes do país. “Há lugares que a Lei Maria da Penha não chegou de nenhuma forma, nem mesmo a informação de que ela existe e que pode proteger essas vidas”. Para ela, não basta dar estrutura para que essa mulher possa denunciar o seu agressor, é preciso oferecer amparo e apoio psicológico. “Precisamos dar condições para que ela volte pra casa, de cabeça erguida, protegida e segura”, complementa.
Marcha das Margaridas
Há 35 anos, em 12 de agosto de 1983, foi assassinada a paraibana, sindicalista e militante, Margarida Maria Alves. À frente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande-PB, moveu 73 ações contra usinas de cana de açúcar da região. Há suspeitas de que ela tenha sido executada a mando de usineiros. É em homenagem a ela que todos os anos mulheres camponesas de todo país se reúnem em Brasília na Marcha das Margaridas, movimento que mantem viva a sua memória e luta pelos direitos e em defesa das mulheres do campo, florestas e águas do Brasil. As informações são de assessoria.