A médica cubana Maydelkis Ferrer, que foi destaque na imprensa por vender espetinho de churrasco para conseguir se manter, depois da saída dos profissionais do país no programa ‘Mais Médicos’, voltou a ser assunto na mídia. Dessa vez, ela foi assunto de uma matéria especial publicada no site G1 deste domingo (21). O Jornal da Chapada já tinha reproduzido um texto sobre Maydelkis (veja aqui) no início do mês de julho. Ela está no Brasil há quase três anos, e é natural da cidade de Morón, que fica na província Ciego de Ávila, em Cuba. Atualmente, a médica cubana mora em Jacobina, na Chapada Norte, e não pretende ir embora do Brasil. A médica se casou com um baiano no ano passado, com quem divide a vida e a nova ocupação.
“Prefiro fazer um trabalho honesto do que ficar parada, sem roubar ninguém e pagando minhas contas. Eu vendo espetinho com meu esposo até conseguir um emprego melhor. E também conto com a ajuda de minha sogra”, contou ela ao G1. Maydelkis Ferrer lembra que quando chegou em terras brasileiras, em agosto de 2016, passou cerca de 60 dias em Brasília, em acolhimento pelo ‘Mais Médicos’. “Eu esperei também a documentação com a Polícia Federal para ter uma estadia legal no país. Logo fui estabelecida na Bahia, no município de Jacobina. Eles [governo] nos colocaram no local em que íamos a trabalhar”. A médica conta que trabalhou junto com outras quatro cubanas, em várias unidades de saúde da cidade, inclusive substituindo médicos brasileiros quando eles saíam de férias.
“Passei todo o tempo de duração do programa aqui [em Jacobina]. Trabalhei em seis postos de saúde no município, prestando ajuda quando os médicos saíam de férias, mas sem abandonar o meu posto”, disse. Adaptada na cidade chapadeira, Maydelkis diz que não foi difícil se adequar ao local. Para ela, os baianos são receptivos. “Jacobina é uma cidade muito acolhedora. Aqui eu tenho muitas amizades que me apoiam. Parece muito com Cuba esta área. Logo em um ano [de chegada na cidade], eu conheci a pessoa que hoje é meu esposo. Começamos a namorar, até que ficamos noivo e casamos”, relembra. Apesar da hospitalidade baiana, a médica fala também sobre o preconceito que os profissionais cubanos sofreram, além dos ataques de xenofobia.
“Ainda temos que escutar de muitas pessoas, nas redes sociais, que muitos de nós cubanos que estávamos no programa não éramos médicos. Inventavam que éramos enfermeiros ou veterinários em Cuba. Muitos comentários absurdos, mas eu não presto ouvidos a essas coisas. Sou uma pessoa que vou para frente sem escutar comentários que me deixem abatida”, disse Maydelkis. Depois que o governo de Cuba decidiu sair do programa em novembro de 2018, citando “referências diretas, depreciativas e ameaçadoras” feitas pelo presidente Jair Bolsonaro – eleito na época –, a cubana chegou a voltar para seu país.
“Eu fui à Cuba e pedi minha liberação de saúde, aí eu voltei ao Brasil para continuar minha vida como tinha programado. Só não deu certo a questão do emprego, que prometeram dar trabalho para nós, para todos os médicos cubanos que ficassem, e não aconteceu assim. Ainda não tem um projeto para a gente, não colocam data para fazer o Revalida”, pondera. O Revalida é o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos, que médicos brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil, que tiveram diploma de graduação em instituições estrangeiras, precisam fazer para terem a graduação reconhecida.
“A gente procura trabalho porque tem o diploma de médico, só que aqui tem que fazer o Revalida. Não podemos exercer [a profissão], e não encontramos trabalho porque as pessoas ficam com vergonha de contratar um médico em uma loja, uma farmácia”, lamenta. Enquanto segue trabalhando como ambulante, Maydelkis mantém a esperança de voltar a trabalhar como médica no Brasil. “O governo brasileiro diz que está aguardando uma medida provisória para regularizar os médicos cubanos pela parte jurídica. Eu acho que logo vai ter uma proposta de trabalho para nós, tenho fé que vamos voltar a trabalhar”, disse. Com informações do G1.