Na Chapada Diamantina existem 359 espécies de aves, segundo dados publicados em 1999. Entre elas, estão espécies endêmicas de diferentes biomas brasileiros e 21 ameaçadas de extinção, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Essa quantidade de espécies, considerada subestimada por alguns especialistas, é consequência do encontro de biomas que ocorre dentro do Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD), com áreas de campos rupestres, caatinga, cerrado, matas ciliares e florestas úmidas.
“Devido a variedade de ambientes, encontramos aqui uma rica diversidade de aves, o que torna o local ideal para a prática da Observação de Aves, ou birdwatching, e com um grande potencial turístico a ser desenvolvido”, afirma Elivan Arantes, analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (Cemave)/ICMBio. “Algumas operadoras do segmento já divulgam o PNCD como o local mais rico em diversidade de pássaros do Brasil”, completa.
Com o objetivo de estimular a construção de ações para o desenvolvimento da atividade na Unidade de Conservação e no seu entorno, no dia 19 de novembro, o ICMBio promoveu, em Lençóis, o encontro “Passarinhando no Parque Nacional da Chapada Diamantina” com a participação de profissionais que já atuam com a atividade na região. A ação foi impulsionado pelo analista ambiental Elivan Arantes, que está na região realizando um estudo exclusivo sobre as potencialidades desta modalidade como estratégia de ampliação da visitação, buscando formatar novos itinerários para o birdwatching no território.
O turismo de Observação de Aves está em crescimento no Brasil e no exterior e apresenta números expressivos. Apenas nos Estados Unidos, 45 milhões de pessoas praticam o birdwatching e 16,3 milhões viajam em busca de avistar novos pássaros. O que movimenta 41 bilhões de dólares por ano, de acordo com o departamento nacional americano de proteção da vida selvagem (U.S. Fish and Wildlife Service).
Para a bióloga e condutora de visitantes especialista em birdwatching, Cristiane Prates, o Brasil, em especial a Chapada Diamantina, possui diferenciais relevantes para participar desse nicho de mercado. Além de possuir espécies exclusivas, que atraem muito esse público, realizar uma visita ao Parque Nacional possibilita que o observador de aves otimize seu tempo e consiga aumentar a sua lista de espécies avistadas em uma única viagem. “Em apenas um dia é possível fazer a volta ao Parque Nacional e ver espécies de quatro biomas diferentes”, destaca.
Conservação
Para além do desenvolvimento econômico, “a atividade contribui para a promoção da ciência cidadã, da saúde, do bem-estar e, principalmente, da conservação ambiental”, ressalta Prates. Razões que motivaram a bióloga e educadora, Adriana Caribé, a desenvolver um projeto pedagógico sobre o tema na comunidade quilombola do Remanso, no município de Lençóis.
“Os pássaros fascinam os seres humanos, por isso, achei que seria uma forma estratégica de sensibilizar os alunos sobre a importância de valorizar a fauna viva”, explica. Em apenas duas horas de aula no pantanal do Marimbus, ela e os alunos identificaram 35 espécies de aves.
Os dados levantados subsidiaram a produção de um jogo educativo da memória, chamado “Remanso das Aves”, que foi distribuído posteriormente para as demais escolas municipais. “O objetivo do material é estimular a observação de aves e o reconhecimento da importância delas para o ecossistema e para a preservação ambiental”, afirma a educadora.
Proposições
Em formato de roda de conversa e troca de experiências, o evento buscou provocar reflexões a respeito dos desafios e potencialidades do desenvolvimento da observação de aves no Parque Nacional. Capacitar condutores de visitantes para exercer a atividade foi uma das principais questões discutidas entre os participantes.
“Eles são a peça-chave para incluirmos o turismo de observação de aves nos roteiros da Chapada Diamantina, além disso, é uma forma de agregar valor ao serviço desse profissional, que está sendo preterido por conta da utilização de aplicativos”, afirma Maiza Andrade, empresária do turismo e observadora de aves.
A partir do debate, foram listadas estratégias e ações prioritárias que podem contribuir para o desenvolvimento do birdwatching, como realizar uma capacitação para condutores, formatar roteiros para agências e montar estandes em feiras e eventos nacionais e locais, além de criar uma rede colaborativa sobre o tema. As informações são do ICMBio.