Hoje, em que o sistema bancário é sólido e confiável, acumular dinheiro vivo em casa é sinônimo de operações nebulosas, de caixa dois ou de lavagem de dinheiro, segundo dizem os investigadores policiais. Tanto que, em qualquer operação policial da Lava Jato, o que se vê é a apreensão de grande quantidade de dinheiro vivo.
Normalmente as pessoas não conseguem explicar porque guardavam tanto dinheiro em casa. No caso do senador Flávio Bolsonaro é de se perguntar por que ele dá preferência por negócios com dinheiro vivo? Esse método é usado por ele na maioria de suas operações financeiras, desde a compra de franquia de uma loja de chocolates, ao pagamento de parcelas de imóveis ou mesmo a compra de móveis para o apartamento onde mora.
Essa prática do senador, aliás, é recorrente principalmente em relação ao seu ex-motorista, o ex-PM Fabrício Queiroz, que até o tratamento médico que fez no Hospital Albert Einstein, de R$ 133 mil, ele preferiu pagar com dinheiro vivo. Deve ter levado um saco enorme cheio de dinheiro ao hospital, o que é um risco grande, pois andar com tanto dinheiro pelas ruas de uma cidade como São Paulo, não é recomendado por ninguém.
Como se sabe, Fabrício e Flávio são suspeitos de desviar dinheiro dos funcionários do gabinete do então deputado estadual do Rio, em valores que superam os R$ 2 milhões, recebidos em 483 operações em dinheiro vivo. O interessante é que sempre que pode, o senador lança mão de dinheiro vivo, ou em espécie, como preferem os policiais.
O caso mais recente descoberto pelo Ministério Público do Rio usado pelo senador foi na compra do apartamento onde ele mora, na Barra, no Rio. O senador e sua mulher pagaram R$ 2,5 milhões, em agosto de 2014, pelo imóvel, que pertencia a David Macedo Neto. Só uma parte do imóvel foi financiada. A outra o senador pagou com depósitos na conta do antigo proprietário.
Mas para surpresa do MP, Flávio usou R$ 30 mil em dinheiro vivo para abastecer a conta de David. O senador explica que o dinheiro foi para pagar os móveis deixados no apartamento. Assim, Flávio pagou a conta por meio de cinco depósitos de R$ 3 mil cada no dia 13 de outubro de 2014 e outros 5 depósitos de R$ 3 mil cada no dia 13 de novembro. O estranho é por que ele não fez um único depósito de R$ 15 mil de uma vez e os outros R$ 15 mil da outra vez? Parece claramente uma ação de quem não deseja levantar suspeitas do Coaf. Afinal, depósitos acima de R$ 10 mil são detectados e comunicados ao Coaf.
Além disso, o MP apura as razões que levaram Flávio a fazer elevados investimentos em dinheiro vivo na compra da franquia da Kopenhangen, num shopping na Barra. Flávio e Fernanda não tinham aporte para comprar a loja e o MP estima que o casal “lavou” algo em torno de R$ 1,6 milhão nesta aquisição. E, mais do que isso: por que a loja passou a movimentar expressivos valores em dinheiro vivo? De 2015 a 2017, a loja movimentava 41,8% em dinheiro vivo, quando o antigo proprietário só movimentava 20% em recursos em espécie.
A predileção por Flávio com dinheiro vivo era tamanha que um amigo PM, Diego Sodré, pagou uma das prestações de seu apartamento, no valor de R$ 16.564,81, em dinheiro vivo, mas o PM não se lembra como foi ressarcido pelo senador. O mesmo PM comprou na loja do amigo um total de R$ 21 mil em panetones. O MP investiga que se os panetones faziam parte de uma operação de lavagem de dinheiro.
Outra operação de Flávio bem estranha que o MP apura foram os 48 depósitos recebidos em sua conta, em valores de R$ 2 mil cada, num total de R$ 96 mil, entre junho e julho de 2017. Novamente, as operações fragmentadas foram feitas para não chamar a atenção do Coaf. É por essa e por outras que a situação do filho apavora Bolsonaro. Até aqui, ele já fez de tudo para postergar a investigação. Primeiro conseguiu que o ministro Dias Toffoli suspendesse por seis meses as investigações com base em dados do Coaf. Agora, mantém o juiz das garantias, para ver se os processos de corrupção ficam mais moroso. As informações são da Revista Isto É.