Por Joy de Utinga*
“Uma coisa é admirar uma pessoa, outra, é conviver com ela”, disse o presidente Jair Messias Bolsonaro.
Otimista inveterado, consigo garimpar uma frase assertiva até mesmo na fala do Bolsonaro. Minha geração admirou – pra não dizer apaixonou-se – por uma atriz quase perfeita para, só décadas depois, ao vê-la, por poucos meses, como secretária nacional da Cultura, descobrir que, ao menos uma vez, o presidente desvairado acertou.
Acertou pela frase cunhada durante sua separação do seu então ministro da Justiça; acertou ao escolher um dos seus pares ideológicos e fundamentalistas para seu quase Ministério da Cultura; acertou, por fim, ao revelar ao Brasil quem efetivamente era aquela atriz que encenou por décadas, de forma impecável, tamanha farsa, só admitida pelas artes cênicas – ou melhor, cínicas.
Cinismo e deboche que revoltam os artistas, repugnam a Sociedade e envergonham a Nação. Em explícito desprezo pela democracia e pela vida, enaltece a ditadura, a tortura e a morte, tratando assassinatos cruéis como se mortes naturais fossem.
Ah, Regina! A morte natural é, sim, como dizes, parceira e consequência da vida, todavia, esta, ao menos nos permite dizer: “já vivemos tudo o que tínhamos para viver!”.
De outro lado, a ditadura torturante, o crime miliciano e a omissão governamental que permitem o crescimento exponencial de mortes antecipadas, sem frases, sem velórios e sem despedidas, essas, equidistantes estão da natureza, ao invés, são produzidas por mentes doentias, comportamentos abomináveis e práticas criminosas. Apesar de tudo, o Brasil agradece a oportunidade que a vida nos deu de matar a personagem para desnudar a pessoa e a arte, ainda que a arte de ser má!
*Joy de Utinga é natural do povoado de Amparo (Zuca), que é dividido entre os municípios de Ruy Barbosa e Boa Vista do Tupim. Ele é casado, técnico em contabilidade, graduado em Administração, ex-servidor concursado do Ministério da Saúde e Baneb, aposentado pelo Banco do Brasil e prefeito de Utinga.