A defesa da militante bolsonarista Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, pediu na tarde desta terça-feira (2) o adiamento do depoimento dela à Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito das ‘fake news’, que está no Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de Sara já ter dito publicamente que não iria depor, os advogados foram à PF fazer a solicitação. O motivo, segundo eles, é a ausência de acesso aos autos da investigação, apesar de já terem ido ao Supremo duas vezes.
“Não tivemos acesso à integralidade dos autos, diferentemente do que disse o ministro do STF Alexandre de Moraes”, afirmou o advogado Bertoni Barbosa de Oliveira. “É fake news”, completou o defensor, se referindo às informações prestadas pelo ministro. Na noite da última segunda-feira (1º), Moraes publicou em seu Twitter uma mensagem dizendo que “foi autorizado integral conhecimento dos autos aos investigados no inquérito que apura ‘fake news’, ofensa e ameaças a integrantes do STF, ao estado de direito e à democracia”.
Barbosa e a advogada Renata Tavares informaram que conseguiram adiar o depoimento para a data limite do mandado de busca e apreensão emitido na semana passada – ou seja, ela tem até sexta-feira (5) para depor. Questionados sobre o fato de Sara já ter dito que não irá depor, Barbosa afirmou que existe uma possibilidade de ela depor e que a cliente pode mudar de opinião.
“Ela pode ficar em silêncio, é um direito constitucional dela de ficar calada e não produzir provas contra si”, disse. Os advogados de Winston Rodrigues Lima também foram à PF pedir adiamento do depoimento, que foi remarcado para quinta-feira (4). Os defensores informaram que estão tentando acesso aos autos pela primeira vez nesta terça-feira (2).
Ameaças foram no calor da emoção, diz advogada
Sobre as ameaças proferidas por Sara contra o ministro Alexandre de Moraes, o advogado Bertoni Barbosa disse que “ela não publicou nenhuma ameaça que seja motivo de prisão preventiva. Até porque prisão preventiva não cabe em infrações de menor potencial ofensivo. Se fosse, seria talvez pela ordem, mas também não está se quebrando nenhuma ordem social”, disse.
De acordo com ele, o vídeo feito por Sara foi logo depois de “a casa dela ter sido invadida” pela Polícia Federal. A advogada Renata Tavares completou: “A residência dela foi invadida, ela estava sem roupa e com o filho de quatro anos. A PF chegou de uma forma bem ofensiva aos direitos dela, e ela ficou totalmente assustada”, afirmou.
Conforme a advogada, a PF revirou a casa da ativista bolsonarista. “Ela agiu mais na emoção, no calor do momento, por ter passado por esse constrangimento. Porque ela passou por um constrangimento muito grande, de ter que ir ao banheiro e uma policial federal ter que ir atrás dela”, disse.
O advogado, então, completou: “Nós sabemos que é o procedimento padrão da Polícia Federal, não vamos criticar a Polícia Federal de modo nenhum. Mas só que ela estava sob forte emoção e foi uma forma de responder ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, que foi quem deu a ordem de busca e apreensão”, afirmou.
No dia da busca e apreensão, Sara chamou Moraes de “covarde” e o ameaçou. Em um vídeo, ela diz que gostaria de “trocar soco” com o ministro e que descobrirá tudo sobre a vida dele, incluindo os lugares que ele frequenta. “Nunca mais vai ter paz na sua vida”, afirma.
Manifestação
No último sábado (30), um grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que que se intitula “300 do Brasil”, liderado por Sara, fez um protesto em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Com tochas e máscaras, a imagem lembrou a muitas ações do Ku Klux Klan (KKK), organização racista originada nos Estados Unidos que fala em supremacia branca e já cometeu diversos atos violentos contra negros.
Sobre a manifestação, o advogado de Sara, Bertoni Barbosa, afirmou que sua cliente “jamais quis dar essa conotação”. “O que ela quis foi usar da sua expertise em prol das suas convicções atuais, que são de uma mãe de família, patriota, temente a Deus. Ela disse que (o protesto) foi baseado no livro Juízes, capítulo sete, versículo 16, da Bíblia”, disse.
O trecho em questão diz o seguinte: “dividiu os trezentos homens em três companhias e pôs nas mãos de todos eles trombetas e jarros vazios, com tochas dentro”. Na ocasião, o grupo que foi protestar em frente ao STF gritava “careca togado, Alexandre descarado”, “ministro, covarde, queremos liberdade”, “viemos cobrar, o STF não vai nos calar”e “inconstitucional, Alexandre imoral”, sempre como gritos de guerra guiados por Sara Winter.
Eles estão acampados na esplanada dos ministérios desde o início de maio. Sara já falou abertamente que no local ficam pessoas armadas. “Em nosso grupo, existem membros que são CACs (sigla para Colecionador, Atirador e Caçador), outros que possuem armas devidamente registradas nos órgãos competentes. Essas armas servem para a proteção dos próprios membros do acampamento e nada têm a ver com nossa militância”, afirmou em entrevista à BBC. As informações são do Estado de Minas.