O curta-metragem intitulado ‘Áurea‘, com 13 minutos de duração, será lançado em 5 de maio, na plataforma do YouTube, no canal da TV Uneb Seabra, às 19h. O filme, que ficará disponível por 24 horas, exibe o encontro da parteira Áurea e o médico Áureo, que juntos fizeram mais de 100 partos domiciliares na comunidade do Vale do Capão, distrito de Palmeiras, na Chapada Diamantina. Durante o lançamento também será realizada uma ‘live’, mediada pelo CineClube Caeté (CineClube do Vale do Capão).
O encontro reúne duas sabedorias que se fundem, o conhecimento tradicional de Dona Áurea com o pensamento científico de doutor Áureo. No dia de lançamento é celebrado o Dia Internacional da Parteira, criado pela Organização Mundial da Saúde em 1991, com o objetivo de homenagear o trabalho das parteiras e enfermeiras da saúde materna. Segundo o Fundo da População das Nações Unidas (UNFPA), as parteiras treinadas oferecem cuidados para milhões de mulheres e recém-nascidos de baixo risco pelo mundo, antes, durante e após o parto. Ainda de acordo com o UNFPA, as parteiras poderiam ajudar a salvar mais de 200 mil vidas maternas por ano, além de evitar três milhões de mortes de crianças antes de quatro semanas.
Contemplado pelo Edital Setorial de Audiovisual de 2019, ‘Áurea’ foi gravado em 2020, respeitando todos os protocolos de prevenção contra a covid-19. “A pandemia fez a gente mudar nossos planos e até mesmo o roteiro do filme, mantendo assim o máximo de cuidado com os protagonistas do filme que são dois idosos”, conta a roteirista, diretora e também produtora Hewelin Fernandes, por meio de nota de assessoria. “É muito importante fazer a roda econômica do audiovisual girar também no interior e valorizar os profissionais locais”, afirma Cesar Fernando, diretor de fotografia e montador do filme, também via assessoria.
O curta-metragem nasceu a partir da chegada da diretora no Vale do Capão em 2018. “Eu conheci a enfermeira obstetra e parteira Natalia Andrade, que na época coordenava uma roda de gestantes, ali eu mergulhei nas histórias dos partos, das mulheres, das parteiras e doulas, e mesmo sendo mãe de duas meninas me deparei com um universo totalmente diferente [meus dois partos foram cesáreas e não por escolha]”, conta Hewelin, em nota.
Logo, a diretora começou a pesquisar, ler livros e artigos sobre o assunto e a formatar um projeto, inicialmente de um documentário de longa-metragem, que acabou virando um curta-metragem, quando ela presenciou um encontro de parteiras na Unidade de Saúde da Família de Caeté-Açú, neste dia eu percebi a conexão entre os dois, a parteira Áurea e o doutor Áureo, o curta nasce de um abraço entre eles, algo tão difícil e precioso nos dias de hoje”, explica a diretora, em nota.
A parteira Áurea Oliveira dos Santos, de 94 anos, nasceu no Vale do Capão, ela aprendeu a arte de partejar com as vizinhas e amigas. “Para mim, ser parteira é um dom”, afirma Dona Áurea, que não sabe quantas crianças vieram ao mundo amparadas pelas suas mãos. Agora, ela já não faz mais partos por conta da idade, mas é muito reconhecida na Vila, tem até rua com o seu nome.
Áureo Augusto de Azevedo, de 68 anos, também não faz mais partos. Ele nasceu em Salvador, se formou na Faculdade de Medicina da Ufba, se mudou para o Vale do Capão na década de 1980, e é reconhecido pela comunidade como parteira, no gênero feminino. “Quando cheguei eu era o único médico e elas nunca tinham visto uma parteira homem”, conta Áureo, em nota, que em 2017 recebeu do Ministério da Saúde o título de Comendador da Ordem do Mérito.
Parto no Vale do Capão
O obstetra françês Frédérick Leboyer diz que “o parto no meio rural é um elemento simbólico, carregado de significados da tradição cultural dos povos tradicionais, que vem sendo ressignificados e reinventados pelas parteiras na relação estabelecida entre cultura e natureza”, ressalta, através de nota. No Vale do Capão, 90% dos partos são realizados em casa, segundo dados da Secretaria de Saúde de Palmeiras.
O curta conta com a diretora Hewelin Fernandes, o médico Áureo Augusto, a enfermeira obstetra e parteira Natalia Andrade, que também é funcionária da Unidade de Saúde da Família de Caeté-Açú, e com a enfermeira e parteira da tradição, Mary Galvão, que é especialista em Saúde Coletiva e Enfermagem Obstétrica pela Universidade Federal de São Paulo e docente do departamento de Ciências da Vida da Uneb.
Esse projeto foi contemplado pelo Edital Setorial de Audiovisual de 2019, e tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.
Jornal da Chapada