Apesar da tentativa de policiais militares de obstruírem as investigações, a Corregedoria da PM de São Paulo concluiu que houve execução de um suspeito desarmado durante uma ação ocorrida em 9 de setembro deste ano. Este foi o primeiro caso em que as novas câmeras corporais usadas pelos agentes mostraram uma grande farsa da PM para tentar encobrir a violência policial e escapar das punições.
“Foi o primeiro caso, com indícios de fraude processual, de homicídio doloso. Foi o primeiro caso com documentos visuais da ação policial militar que contradizem [o que] os policiais disseram”, afirmou à “Folha de S. Paulo” o tenente-coronel Gilson Luiz da Costa, chefe do departamento de operações da Corregedoria. Foi solicitado o pedido de prisão preventiva para oito policiais, entre praças e oficiais, sob a suspeita de homicídio doloso (quando há a intenção de matar), fraude processual, prevaricação e falsidade ideológica.
PMs forjaram confronto e taparam câmeras
A operação, revelada pelo “Fantástico”, ocorreu em São José dos Campos, interior de São Paulo. Na versão dos policiais, uma equipe do Batalhão de Operações Especiais (Baep) perseguia um veículo que levava suspeitos de terem participado de um roubo a um mercado. O motorista perdeu o controle do veículo em que estavam os suspeitos e bateu na entrada de um condomínio. De acordo com os PMs, após a colisão, pulou pela janela do carro e saiu correndo.
Conforme gravado pelas câmeras, outro civil que estava no veículo, Vinícius Gomes, saiu do carro com as duas mãos na cabeça, rendido, desarmado e foi baleado pelo sargento Inácio. Ele foi morto com três tiros de fuzil. Os agentes também atiraram em outro suspeito desarmado, que só sobreviveu porque usava um colete a prova de balas. No vídeo, o policial lamenta o “erro”. “Eu ia adivinhar? Devia ter dado na cara. Moleque de colete, mano. Eu ia adivinhar?”, diz, conforme vídeo divulgado pela TV Globo.
Segundo a Corregedoria, os policiais alteraram a cena do crime para parecer que tinha acontecido um confronto, mataram os jovens antes de confirmar se eram realmente os assaltantes do mercado e ainda agiram para tentar evitar que as câmeras captassem imagens da ação. Eles chegaram a desligar os equipamentos (quando deixam de gravar o som) e a virar para o lado oposto, impedindo que fossem captadas as imagens da operação, além de tapar a câmera com as mãos e as armas.
Ampliação do uso de câmeras em uniformes diminui letalidade policial
O governo estadual ampliou no primeiro semestre o uso do equipamento nos uniformes. No primeiro mês após essa ampliação, o estado de São Paulo atingiu o menor índice de letalidade policial em oito anos.
Além dos policiais que tiveram a prisão preventiva pedida pela Corregedoria, há ainda um segundo grupo de agentes que chegou para dar apoio. Estes não serão indiciados, mas devem sofrer um processo interno para serem expulsos da corporação por terem obstruído as câmeras.
“Nós pedimos a apuração em processo regular também para os policiais militares que não estão indiciados, mas que acintosamente colocavam as mãos ou qualquer outro instrumento sobre as câmeras para ocultar a produção dessas imagens”, disse o tenente-coronel Costa, da Corregedoria. As informações são da Revista Fórum.