Diretor da divisão de Américas da Consultoria Eurasia, Christopher Garman, analista brasilo-estadunidense que é visto como uma espécie de guru por banqueiros e pelo sistema financeiro, afirmou que “é altamente provável” que Lula esteja no segundo turno e comparando com o slogan “make America great again”, de Donald Trump nas eleições nos EUA, o petista fará uma campanha “let’s make Brazil great again”, apontando tudo no sucesso econômico de seus governos anteriores.
“Quando você olha os ativos do Lula ele pode dizer que, enquanto ele estava no governo, você podia comprar carne e agora você tem que comprar ovo. Indiretamente, a campanha do Lula guarda semelhanças com a do Trump. Em vez de ‘Make América great again’, temos o ‘let’s make Brazil great again’”, disse Garman em entrevista ao Valor Econômico, ressaltando que “o ponto de partida do Lula é a credibilidade dele nas questões sociais“.
Segundo o analista, Lula está mais garantido que Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno das eleições. “Nós temos uma base petista próxima a 25% e o Lula tem base que vai além do próprio PT. E o cenário econômico conspira a favor de um nome como Lula. Se você olha a lista de preocupações eleitorais, a preocupação predominante hoje é mais de emprego e renda, e a apreensão com corrupção caiu em termos relativos. Isso é o fruto do drama econômico”, diz.
“Dá para dizer que é altamente provável que ele esteja no segundo turno. No caso do presidente Bolsonaro, é bastante provável”, emenda, mais adiante. Para o analista, caso o prognóstico se confirme, Lula deve ser eleito novamente presidente. “No segundo turno, dou vantagem para o Lula, pela questão econômica, mas não coloco probabilidades”.
Garman afirma que a chance de uma terceira via é de “20%” e que a ida de Sergio Moro (Podemos) ou João Doria (PSDB), que têm perfil mais conservador, ocuparem o lugar de Bolsonaro no segundo turno depende muito mais do declínio do governo por causa da economia do que “de um nome”.
“Na Eurasia colocamos a possibilidade de 20% do presidente não chegar no segundo turno. Quatro meses atrás, por outro lado, terceira via parecia ‘wishful thinking’. Hoje não é um cenário provável, mas é um possível. Depende do grau de deterioração da economia. Podemos também ter uma outra onda de covid-19, como está acontecendo na Europa. Há fatores exógenos. O caminho da terceira via depende mais dessas variáveis do que de um nome”.
Garman afirma, no entanto, que Bolsonaro deve parar de cair nas pesquisas a partir do aumento do salário-mínimo e do desenvolvimento de programas sociais, como o “Auxílio Brasil”, sucessor do Bolsa Família.
“Eu vejo uma tendência de estabilização e não me surpreenderia com uma recuperação no primeiro trimestre do ano que vem. A razão da queda nos últimos quatro meses está muito ligada à queda da renda. Na virada do ano deve ter uma reposição do salário mínimo de 10%, em uma circunstância em que a inflação deve parar de subir. Isso pode levar a uma estabilização. Evidentemente tudo depende do tamanho do tranco na economia do ano que vem. Se vai ter recessão ou não. Estados e municípios, por outro lado, vão estar com muito dinheiro em caixa. Do lado estritamente político, a gente vê que há um eleitorado bem fiel ao bolsonarismo que chega quase a 20%. A combinação desses dois fatores sugere que o espaço para maior declínio está contido. Aposto em uma ligeira recuperação, não a ponto dele ser considerado favorito”, diz. Redação da Revista Fórum.