Nesta segunda-feira, 13 de dezembro, Luiz Gonzaga, o rei do baião, faria 109 anos. Nascido em Exu (PE), o cantor, compositor e sanfoneiro é, além de um dos maiores compositores do Brasil e do mundo, um dos grandes responsáveis por dar voz, imagem e, sobretudo, som ao povo brasileiro nascido na região Nordeste.
Por conta disso, o aniversário de Luiz Gonzaga é a data em que é comemorado o Dia do Forró. Muito mais do que um ritmo ou um gênero, o termo – cercado de controvérsias e lendas – roubou para si um significado um tanto mais abrangente. Quando alguém diz: “vamos ao forró”, está dizendo que vai dançar ritmos como o xote, baião, maracatu entre outros; vai comer sarapatel, caruru, vatapá; vai usar chapéu e sandálias de couro; vai, enfim, se refestelar por uma das culturas mais alegres, ricas, vivas e coloridas do país.
“Ir ao forró”, portanto, é um pouco ir ao Nordeste e suas várias nuances. Ao contrário do que imaginam muitos “sudestinos” incautos, o Nordeste está longe de ser homogêneo. As manifestações que brotam em seus estados são tão distintas e variadas que é impossível coloca-las todas em um balaio só.
“Nordestino”
Gonzaga, no entanto, por conta da tamanha riqueza de sua obra, conseguiu criar para o resto do Brasil um tipo que, para todos os outros de fora da região, caracteriza com exatidão algo que não existe: o “nordestino”. Vale notar que o baiano Dorival Caymmi, contemporâneo de Gonzaga, não é visto pelo resto do país como “nordestino”, mas sim como o compositor do mar.
O paradoxo está dado e não vale, ao menos neste quesito, brigar por ele. O fato é que Luiz Gonzaga é o primeiro grande artista brasileiro a transpor a barreira do “Sul maravilha” e virar o porta-voz de milhões de conterrâneos que retiraram de suas regiões pobres, castigadas pela falta de chuva, miséria e abandono para trabalhar pesado, sobretudo na construção civil e, no caso das mulheres, em tarefas domésticas.
Preconceito
É praticamente impossível medir a importância que Luiz Gonzaga teve para diminuir o impacto do enorme preconceito que o retirante nordestino sofria (e sofre ainda) no resto do País. A partir dele, o retirante que construía as casas e lavava as louças dos abastados do Sul e Sudeste passou a ter uma cara e um som.
O impacto de Gonzaga e da cultura dos estados do Nordeste é imenso e não se limitou a ele. Na sua trilha, no seu encalço, inúmeros outros artistas ocuparam as rádios e TVs do Brasil com tal força que é impossível pensar a nossa música sem passar por eles. Impossível nos imaginarmos sem Caetano e Gil, Dominguinhos e Alceu Valença, Geraldo Vandré, Zé Ramalho e Geraldo Azevedo, enfim, impossível pensar o Brasil, sua música e sua vida, sem o ponto de partida dado por Luiz Gonzaga.
Logo, é impossível pensar nossa identidade mais profunda sem este que hoje chamamos de “forró”, gênero construído a partir de povos originários. Ele, ao lado da toada caipira e do samba, reinventado por uma grande mistura de povos africanos escravizados que foram trazidos para cá, forma o que hoje teimamos chamar de música popular brasileira, um dos maiores pilares da nossa cultura. Redação da Revista Fórum.