O cientista político, primeiro secretário do PSB na Bahia e presidente da Fundação Luís Eduardo Magalhães (Flem), Rodrigo Hita, diz que o partido liderado na Bahia pela deputada federal Lídice da Mata trabalha atualmente com duas possíveis estratégias para a formação de chapas para a eleição de deputados federais e estaduais: a confirmação ou não da federação partidária com o PT – e também com o PV e o PCdoB.
Mas, independentemente de haver ou não a federação – Hita destaca que o PSB tem disposição para conversar, ainda mais com a extensão de prazo até maio concedida após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) – o socialista diz que o partido está preparado para formar uma boa bancada de deputados federais. Falando em federais, Rodrigo Hita considera a perda de Marcelo Nilo ‘sentida’ e aponta que a ideia de o parlamentar fazer uma ponte entre o eleitorado de ACM Neto (UB) e o do ex-presidente Lula (PT) é difícil.
Ainda sobre Nilo, Hita pontua que, ao rejeitar apoio a Wagner, o deputado federal também age contra o partido, pois uma vitória de Jaques Wagner alçaria o ex-deputado federal Bebeto Galvão, militante do PSB, à vaga de senador.
Confira abaixo os principais trechos dessa conversa ocorrida na sexta-feira (11):
Política Livre – Como o senhor avalia a saída de Marcelo Nilo do PSB, algo que, devido aos recentes episódios, nem se pode mais chamar de virtual?
Rodrigo Hita – Primeiro quero registrar que tenho profunda admiração e respeito por quem tem coragem de expor ideias e botar sua cara a tapa e receber votos, ir à urna. Quem disputa uma eleição tem que ter muita coragem. Segundo, se uma pessoa está insatisfeita, e Marcelo está registrando isso já há algum tempo, e esgarçou completamente a relação com um projeto político, é natural que ele procure outro caminho. Se o caminho [dele] não é o que a grande maioria do partido acha que deve ser, cabe a ele tomar a decisão de realmente se desligar do partido. Claro que perder um deputado é algo sentido, ainda mais um que esteve por tantos anos no lado progressista no Estado; mas, como ele mesmo disse, ele nunca foi um homem de esquerda. Se realmente sair – pois não tinha dito que iria sair do partido – o que não pode acontecer é ele dizer que, se [o pré-candidato do União Brasil, ACM] Neto não o convidar para ser senador, ele fica aqui. Isso aí não seria correto com o partido que ele mesmo afirma que o acolheu bem, que tem boa relação, que tem boa relação com a presidente [Lídice da Mata]. Ele [nesse momento] deixa o partido desconfortável, pois [o PSB] está na base do governo de Rui [Costa] e já declarou apoio natural ao governador Jaques Wagner; Marcelo disse que não quer votar em Wagner, cometendo um ato também contra o partido, pois ele não está querendo votar em nosso destacado militante Bebeto Galvão, que será senador caso Wagner ganhe a eleição. Ele não está indo só contra Wagner, está indo contra o PSB.
E como o senhor avalia a saída dele do governo? Qual impacto terá?
Acho que o impacto é muito pessoal de Marcelo. A estratégia de Neto está clara: queria alguém de mandato para dizer que vota em Lula e em Neto. Se Marcelo vai se dispor a fazer isso para ele e se vai ter algum impacto, acho muito difícil [haver] porque Wagner tem uma grande característica que é a vinculação com o presidente Lula; e é muito difícil alguém conseguir vincular [igualmente], pois [Wagner e Lula] são companheiros de longas datas e de intimidade grande. A estratégia de Neto está clara: ter um palanque aberto, de tentar vincular a imagem dele a Lula. Essa seria a possível serventia da Marcelo ao outro grupo, mas acho que não terá muito efeito não.
Quanto à formação da federação com o PT, o PV e o PCdoB, como está esse trâmite? Há questões regionais que podem atrapalhar. Em São Paulo, por exemplo, Lula quer Haddad candidato ao governo, o PSB quer Márcio França. Essas questões regionais podem atrapalhar?
Acho que as candidaturas ao governo não sejam grande entrave; é muito mais a organização da federação. A maioria dos diretórios estaduais do PSB, assim como metade dos governadores e a grande maioria da bancada federal, quer fazer a federação. O grande entrave são as regras: se for formada a sua composição pela proporcionalidade das bancadas na Câmara Federal, que é a proposta do PT, o PT tem maioria: de 50 terá 27; a soma dos outros três partidos nem chega ao tamanho do PT. Se isso vai durar por quatro anos e as eleições municipais de 2024 vão passar por aí, há algumas divergências sobre as quais o PSB quer abrir diálogo. Por exemplo, onde tem candidatura à reeleição de prefeito, o partido que já tiver seu candidato, este seria o candidato nato. Outra proposta é que possa juntar os partidos para que tenham um peso igual ao do PT. É claro que o PT é o maior partido, de bancada e de filiados, mas o PSB hoje tem mais prefeitos que o PT. Tem que achar um meio termo nessa negociação: o PSB não está de todo errado e o PT também não. Mas ganhamos esse espaço para negociação até maio – teria que ser agora – mas foi estendido com a decisão do Supremo [Tribunal Federal].
Até antes mesmo dessa questão de Marcelo Nilo e da formação da federação, falava-se que o PSB teria dificuldade para reeleger a sua bancada federal. Se não for confirmada a federação, o senhor entende que, por exemplo, pode haver algum risco da não reeleição da deputada Lídice da Mata?
A gente está construindo uma chapa considerando [um cenário com] federação e sem federação. Quando você tem dois deputados que não se elegem sozinhos, com 90 mil ou 100 mil votos, que era a base de Marcelo e de Lídice, é mais difícil você convencer outros a virem para o partido e conseguir eleger mais de dois. Mas a gente tem militantes, tem ex-prefeitos, tem vice-prefeitos que estão com vontade de fazer suas candidaturas regionais ou então que acham que podem se eleger. Dificilmente o PSB ficará sem representante na Câmara Federal; agora eleição e mineração só depois da apuração, diz o ditado. Há muitos bons quadros que atraem, com posição ideológica que atrai muita gente. O PSB é um partido leve. A federação facilita até a eleição de mais deputados, mas, se não tiver federação, nós estamos preparados também pra eleger uma bancada.
O fato de o partido hoje não pressionar para ter uma vaga na majoritária aqui na Bahia – e o PSB já teve sucesso com a própria eleição de Lídice da Mata para o Senado em 2010 – não demonstra um enfraquecimento do partido no estado?
Mas nós temos espaço na majoritária. Bebeto Galvão será senador se Wagner ganhar a eleição. De qualquer jeito, depende da eleição. O espaço de senador na chapa virtualmente é de Otto [Alencar, do PSD]. Se Otto será candidato ao Senado, não sei. Mas tudo dependerá de o grupo ganhar a eleição; nós teremos um senador se o grupo ganhar a eleição. Isso é muito importante: Bebeto é um militante sindical, já foi vice-prefeito de Ilhéus, deputado federal, negro. Ele tem muita representatividade e a gente vai conseguir eleger Wagner e, assim, assumir o Senado com nosso militante Bebeto Galvão.
E quanto à Assembleia? Hoje o PSB tem uma boa bancada. Acha que pode aumentar esse número de cadeiras na assembleia? Como é que vocês estão montando essa chapa?
Hoje o PSB, com a possibilidade da federação, se tornou o partido mais cortejado da Assembleia. Muitos deputados estão procurando o partido, muitos deputados querem entrar no partido e nós temos também outras candidaturas importantes de pessoas já filiadas ao PSB que estão fazendo sua militância para tentar se eleger. A gente pode, sim, aumentar a bancada, mas claro que isso vai passar por um diálogo com todos, vai passar por um diálogo ideológico, com os atuais deputados do partido pra entender qual é o melhor formato e se vai ter ou não federação. Então essa é a grande conta: a gente passa a ter uma estratégia quando a regra estiver definida. Estamos pensando em duas estratégias – tem federação ou não tem federação – então esse diálogo é constante. E se hoje o PSB não é um dos mais procurados para a eleição de deputado estadual.
Há uma discussão aqui na Bahia sobre se a eleição vai ser nacionalizada ou não. Qual é a aposta do senhor? Nacionalização realmente? Lula vai ser o grande diferencial aqui na Bahia nessas eleições?
Nós temos quatro grandes diferenciais. Primeiro somos um grupo forte e coeso, que está na Bahia toda. Segundo, temos um grande candidato que já foi governador e é um articulador nato. Terceiro, temos um atual governador muito bem avaliado, que é Rui, que está no nível [de popularidade] de Lula, inclusive, na Bahia. E o quarto é o próprio presidente Lula. É impossível [não nacionalizar]. Não é uma eleição de governador, é uma eleição de presidente que também elege governador; é impossível não vincular, impossível não nacionalizar. A intenção principal de todo mundo que está debatendo é a eleição para presidente, ainda mais com um presidente [Jair Bolsonaro] que temos, da forma que está polarizada [a eleição com Lula]. Então hoje o grande debate é a eleição presidencial. Por isso tenho a impressão de que o grupo de Neto está meio perdido: não se vincula a Bolsonaro porque sabe que, na Bahia, seria um tiro no pé; mas isso pode também fazer com que João Roma passe ele se ele não se vincular. Então ele [ACM Neto] está numa sinuca de bico. As informações são do Política Livre.