A recusa de licenciamento ambiental para atuação da mineradora Brazil Iron na região do município de Piatã, na Chapada Diamantina, ganhou um novo capítulo. O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) não concedeu licença e a empresa inicia demissão em massa. Mas essa não é a notícia principal nesse processo. Segundo fontes ligadas ao Jornal da Chapada, a não expedição de licença seria uma retaliação do Governo Rui Costa (PT) ao prefeito chapadeiro Marcos Paulo (PDT).
Isso porque o pedetista declarou voto abertamente ao ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), que lidera as pesquisas para governo da Bahia. Marcos Paulo apoiou o governo petista até receber a comitiva de ACM Neto no dia 4 de abril, primeira agenda do direitista pelo estado como pré-candidato. Foi na oportunidade que o prefeito Marcos assinou ordem de serviço para o começo das obras de pavimentação asfáltica de 28km da BA-148, que liga a sede do município ao distrito de Inúbia.
Agora, adivinha de onde foi esse recurso para a obra de pavimentação? Do deputado federal Paulo Azi (União Brasil), político da base de Neto. Foram R$15,5 milhões de investimentos, segundo o próprio parlamentar, “fruto da parceria do nosso mandato e a prefeitura de Piatã, tão bem administrada pelo prefeito Marcos Paulo. Estamos cada vez mais unidos e fortes por uma Bahia melhor e mais justa para o nosso povo”!
De acordo com apuração do Jornal da Chapada, desde esse dia que o prefeito já pede votos para ACM Neto. “Basta ligar os pontos. Marcos Paulo já declarou publicamente que é ACM Neto. Não tem nada de cordial como disse ele quando recebeu a comitiva do ex-prefeito de Salvador. Aqui, em entrevista de rádio, ele já deixou evidente que não apoiará Jerônimo Rodrigues. Pode escrever aí e pede pra ele responder. Se for apoiar Jerônimo é um furo jornalístico de vocês”, diz a fonte que preferiu o anonimato.
Outro ponto que aponta para a rusga política que acabou sobrando para a mineradora inglesa Brazil Iron, foi a visita de Neto e de João Leão (PP), na época o vice-governador fazia parte da chapa majoritária, no pátio da empresa que explora minério de ferro em Piatã. Dados divulgados pela assessoria dos políticos ressaltavam, como forma de pressionar o governo estadual e o Inema, obviamente, que a empresa gera 400 empregos diretos, sendo 80% com mão de obra da região, e outros 2 mil empregos indiretos.
O vice-governador João Leão também falou de desenvolvimento econômico e disse que é um fator importante na geração de empregos. A declaração foi feita justamente onde há atividade de mineradora. “Bahia pode muito mais na mineração. Hoje ocupamos o terceiro lugar, mas com Neto no governo e eu no Senado Federal esse quadro vai mudar. Vamos trabalhar arduamente para colocar a Bahia no topo do setor mineral, de forma sustentável, pensando no meio ambiente e no social, e na geração de emprego neste segmento”, disse Leão.
Sobrou até para o deputado estadual Marquinhos Viana (PV), que esteve na então assinatura de ordem de serviço em 4 de abril. Marquinhos, no entanto, saiu logo da reta e disse a um site da capital a seguinte afirmação: “O evento era do prefeito. Eu não estou com Neto, não. O evento era do prefeito, eu nem sabia que ACM Neto ia estar lá. O prefeito, inclusive, vota comigo, ele e o grupo dele. Eu nem sabia que ele estaria lá. Quando vi, só o cumprimentei, mas não houve conversa nenhuma. Eu estou Jerônimo, tanto que sou do PV, federado, e não posso vacilar para acabar perdendo o meu mandato”, afirmou o deputado ao site.
No dia 18 de maio deste ano, o prefeito de Piatã, Marcos Paulo, se reuniu com algumas lideranças, entre elas diretores e técnicos do Inema e teria, segundo assessoria do deputado estadual Roberto Carlos (PDT), da base do Governo Rui Costa, conseguido regularizar a definitiva atuação da mineradora Brazil Iron, que retomaria suas atividades no município chapadeiro.
“A resolução dos problemas só foi possível, depois de dias de conversas e dedicação de todos os envolvidos. Nossa gestão tem o objetivo de fazer o melhor para o povo do nosso município e isso só será possível se pudermos equilibrar o desenvolvimento, a criação de emprego e renda, com a preservação ambiental, um compromisso que faço questão de reiterar”, disse o gestor, por meio das redes sociais, defendendo a mineradora.
O Inema havia aplicado penalidade de interdição temporária à mineradora. Conforme o órgão, a empresa descumpriu as portarias ao explorar a poligonal definida, implantar e executar atividades para além do que foi autorizado. Também aponta que a empresa realizo supressão e soterramento de vegetação nativa com material estéreo nas estradas vicinais do empreendimento. Ainda efetuou supressão e soterramento de vegetação nativa em área de preservação permanente, assim como por não responder notificações do órgão.
É óbvio que o Inema, governo estadual, tem sua responsabilidade em ter liberado, agora, e interditou a mineradora com base em dados fundamentais sobre o impacto da exploração de minério. E a mineradora, por sua vez, tem suas justificativas e pretensões de expansão. Ou seja, é a política mesmo que resolve esse entrave. Por enquanto, contra a mineradora e o prefeito de Piatã. Mas tudo pode mudar, não é verdade?
Zé Carlos Fernandes para o Jornal da Chapada