A primeira supermicrocirurgia para transplante de linfonodo da Bahia acontecerá nesta sexta-feira (5), no Hospital Aliança, em Salvador. A paciente que será beneficiada pelo tratamento é a mato-grossense Elizabeth Rezende Almeida, de 30 anos, portadora de linfedema primário desde os sete anos de idade.
Com o agravamento da doença, a partir de 2010, Elizabeth passou a ter dificuldades para usar calçados. Atualmente, ela apresenta uma diferença de cinco centímetros da perna direita para a perna esquerda, o que a impede de realizar atividades cotidianas, provocando seu afastamento do trabalho desde o ano de 2013.
“Meu diagnóstico só ocorreu aos 22 anos, através de linfocintilografia, mas tenho fotos de criança em que dá para ver que, no chinelo, o pé direito já ficava um pouco para fora”, lembra Elizabeth, que é licenciada em pedagogia e atuava como operadora de telemarketing antes de se afastar pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O linfedema, conforme recorda a paciente, é uma condição sutil: “vai passando o tempo, vai inchando, dia após dia, e, quando você vê, já tem três, quatro, cinco centímetros de diferença, que é o meu caso. No meu pé esquerdo, estou usando tamanho 37, mas no pé direito, a numeração é 40. Comprei, recentemente, um calçado fechado tamanho 43 e, mesmo assim, ele não serve”.
Natural do município de Sinop, no Mato Grosso, Elizabeth enxerga no transplante de linfonodo a chance para voltar a viver bem e cuidar dos seus dois filhos – um menino de 10 anos e uma menina de quatro anos. “A doença me trouxe muitas marcas negativas, eu queria me esconder de todo mundo, me sentia muito para baixo por não conseguir calçados e roupas adequados. Já tive episódios de erisipela, propagação de fungos entre os dedos, alteração na coluna e dores. As pessoas olham, questionam e até chegam a fazer comentários. Então, desde 2010, comecei a pesquisar, a cirurgia era algo impossível, mas, depois de ler evidências sobre uma possível melhora na qualidade de vida em até 40%, eu não tive dúvidas e lutei pelo meu transplante”, conta.
Neurocirurgiões conduzirão procedimento
O procedimento de Elizabeth será conduzido pelos neurocirurgiões Leonardo Avellar – coordenador do serviço e da residência de neurocirurgia do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em Salvador –, e Marcelo Magaldi, de Minas Gerais. Ambos já realizaram, com êxito, a supermicrocirurgia para transplante de linfonodo na capital mineira, que, até então, era o único local do Brasil a sediar esse tipo de cirurgia.
“Hoje, a supermicrocirurgia para transplante de linfonodo é considerada rara, mas pode ser uma esperança para as pessoas que sofrem com linfedema”, avalia Leonardo Avellar, que acrescenta: “pode parecer estranho um neurocirurgião conduzir uma cirurgia vascular periférica, mas, por nossa prática com revascularização de vasos pequenos, possuímos habilidade no manejo microcirúrgico. É o caso desses pacientes, que exigem o domínio de técnicas de microcirurgia vascular”.
Primeiro caso de sucesso
Quem também estará em Salvador para acompanhar o transplante de Elizabeth é a mineira Eliane Eudes de Oliveira, de 52 anos. Ela se submeteu ao transplante de linfonodo, em Belo Horizonte, no dia 25 de agosto de 2021, dos membros inferiores —o médico optou por marcar a dos membros superiores seis meses após a realização do primeiro, ou seja, em fevereiro de 2022.
“Fui a primeira a fazer essa cirurgia no Brasil, com doutor Magaldi, e os meus resultados são fantásticos. Já perdi sete quilos dos 12 que inchei. Voltei a vestir até calça jeans 36 e, inclusive, vou levar a calça e vestir para provar que realmente funciona”, brinca ela, que hoje dedica parte do seu tempo à causa das doenças raras: “criei um grupo no WhatsApp e um grupo no Facebook chamado Linfedema: Socorro SUS para pedir aos órgãos competentes de todo o país a liberação do tratamento completo do linfedema, incluindo cirurgias, pelo Sistema Único de Saúde”.
Entenda o linfedema
Linfedema, de acordo com a definição de Magaldi, é o inchaço de pernas ou braços que incomoda muito e não tem cura. Segundo ele, pode ser de nascença ou, mais comumente, após tratamento de câncer, principalmente o de mama.
“No meio da gordura do nosso corpo, há o sistema linfático, que drena líquido que as veias não conseguem levar. Os linfonodos são caroços que crescem em infecções e que promovem o desenvolvimento desse sistema”, explica o neurocirurgião mineiro, detalhando: “a cirurgia promove a retirada de linfonodos de região onde há muitos para as regiões em que faltam linfonodos, mas há a necessidade de ligá-los às artérias superficiais, que têm menos de um milímetro. Por isso, a técnica necessita da microcirurgia bem delicada. Após a cirurgia, os linfonodos promovem crescimento do sistema linfático, melhorando a drenagem do líquido e diminuindo o inchaço, peso, desconforto e infecções no membro”. Com informações de assessoria.