Desde criança, um dos passatempos favoritos de Renata Silveira era escutar o futebol pelo radinho de pilha do pai. Aquilo fazia parte de seu imaginário, em que as vozes dos narradores davam o tom da partida. Hoje, aos 32 anos, ela está do outro lado, e em alguns meses terá a responsabilidade de ser a pioneira num mundo dominado por homens: narrar os jogos da Copa do Mundo do Catar.
“Serei a primeira voz feminina a narrar o maior evento do futebol mundial em TV aberta. Essa é a maior conquista profissional da minha vida”, comemora. Atualmente detentora de cadeira cativa nas transmissões dos jogos da Liga das Nações pelos canais SporTV, Renata se interessou pelo futebol ainda muito nova, quando se aventurava a jogar partidas com os meninos.
Ser a primeira a estimula, mas também traz uma reflexão nem sempre feliz. “Eu me sinto honrada pelo título de ‘pioneira’, mas eu nunca quis que fosse assim. É triste pensar que demorou tanto para estarmos aqui. Meu mais sincero desejo era que eu fosse apenas mais uma entre tantas mulheres que já tivessem conseguido alcançar esse espaço. Mas, enquanto ainda engatinhamos, creio que seja um marco crucial para desestruturar estigmas e preconceitos no esporte”, avalia.
Renata conta que já foi alvo de olhares desconfiados por desempenhar uma função predominantemente masculina. “Mas nunca me intimidei. Nada disso me impediu de acreditar que ali seria meu lugar. Em realidade, esse é um traço cultural que ultrapassa o esporte. Nossa sociedade foi estruturada sobre bases machistas. Enquanto público, não estamos preparados para assistir, ouvir, admirar e consumir conteúdos produzidos por mulheres. Mas é claro que, quando falamos sobre futebol, a situação se agrava. Até meados de 1940, nós éramos proibidas de jogar, de assistir e até de comentar sobre o esporte. Desaceleraram nossos passos e, por isso, estamos chegando tão tardiamente. Primeiro, as repórteres vieram desbravando o terreno; depois, as comentaristas fincaram suas opiniões nas bancadas; e, agora, finalmente chega a vez das narradoras. Espero que seja o último passo para um cenário de maior equidade”, diz ela, em entrevista à revista “29 horas”.
Ela ainda não sabe se estará no Catar para as narrações, já que a cobertura se dará de forma híbrida: “Ainda não há nada confirmado. Assim como nos Jogos Olímpicos de Tóquio,contaremos com uma cobertura híbrida e a equipe in loco será reduzida, ainda devido aos protocolos sanitários mundiais. Serão aproximadamente 80 profissionais no Catar e uma grande equipe no Brasil, em um super set tecnológico montado nos Estúdios Globo, estabelecendo essa conexão direta entre os continentes. Mais de 300 horas de conteúdo poderão ser acompanhadas pelo SporTV 2 e diretamente no Globoplay, inclusive por não-assinantes. Outra novidade é que as transmissões nos canais por assinatura da rede poderão ser assistidas em resolução 4K, proporcionando uma vivência imersiva ainda mais impressionante”.
Renata faz ainda um prognóstico para a seleção brasileira na competição e fala das expectativas para a Copa. “Essa, sem dúvidas, será uma Copa atípica, começando pelo fato de ser uma das raríssimas edições marcadas para o final do ano – e não para julho, como tradicionalmente acontece. Somados a essa mudança de agenda, ainda estão todos os traumas que com certeza traremos após esses dois anos de pandemia. Os jogadores vêm mais cautelosos, mas também com muita sede de jogo. Ainda é cedo para prever, mas acredito que o Brasil tenha grandes chances de terminar a primeira fase em primeiro dentro de sua chave”, prevê ela: “Vamos viver a Copa da superação, da emoção e da empatia. Acredito muito que aquele sentimento familiar que tanto nos unia a cada quatro anos em frente à TV deva voltar ainda mais latente, após tantos anos adormecido”. Com informações do Extra.