Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher de Valdemar Costa Neto, já tinha sido pivô da prisão do ex-marido durante o mensalão, ao fazer denúncias que ligavam o político a práticas criminosas. Por causa delas, Valdemar teve que renunciar ao mandato de deputado federal e foi condenado.
Maria Christina, que mora em Miami (EUA), voltou agora à cena com uma live transmitida no YouTube, no último dia 15, motivada, segundo diz, pelas ameaças dele à democracia, diante do questionamento do PL ao resultado das eleições. Em tom irônico, ela citou contravenções como evasão de divisas, tráfico de drogas e sonegação da família Bolsonaro. Mencionou também um relacionamento amoroso anterior de Valdemar com Michelle Bolsonaro. Em entrevista à ISTOÉ, ela confirma as declarações e detalha pontos abordados no vídeo.
Sem apresentar provas concretas sobre os fatos, ela revisita também assuntos polêmicos que já havia abordado anteriormente, como o fato de que o presidente do PL recebia propina de empresários de Taiwan, que ele tem uma sociedade oculta com o empresário Fernando Simões, o qual ajuda a lavar dinheiro, e tem negócios ligados ao cartel de drogas de Juarez, do México.
A sra. divulgou um vídeo em que se refere a novas denúncias contra Valdemar. Quais são?
O Iágaro Jung Martins (conselheiro do CARF) começou a fazer uma investigação sobre brasileiros que sonegam aqui nos EUA. Estou ajudando essa investigação. Hoje, brasileiros têm 12% dos apartamentos construídos em Miami e, desses, 80% não são declarados. São mais de três mil imóveis em Miami, mais 1.200 em Nova York e alguns em Aspen. Todos os que têm apartamento e não declararam terão que pagar multa por lavar dinheiro em território americano. E nessa história toda apareceram vinte e poucos imóveis em nome de dois laranjas, que muito provavelmente pertencem à família Bolsonaro. Logo tudo isso vai vir à tona. E eles não vão conseguir escapar, porque aqui é a América, e não o Brasil.
A sra. citou no vídeo o Porto de Santos, aeroportos, tráfico de drogas… Pode ser mais específica?
Estou falando sobre a empresa do Valdemar, a Guaranhus, que fica no Uruguai e foi o Lúcio Funaro que abriu. Era usada para lavar dinheiro para o cartel de Juarez, do México. E a Liliane Roriz, que era minha amiga, diz que o Valdemar era o chefão do tráfico de drogas. Por isso, ele tem essas coisas com aeroportos e o Porto de Santos.
O que a senhora quer dizer quando fala na live: ‘sentar em cima’, de juiz e desembargador?
Isso é sobre o meu inventário da herança deixada pelo meu pai. Fui mexer no meu processo que não andava, e há seis meses eu o digitalizei; como as coisas não andavam, pensei em vender os meus direitos para um fundo e então eles pediram uma auditoria. Nessa etapa, minha advogada descobriu que eu tenho uma dívida – com uma outra advogada – de R$ 400 mil e não sei o quê. Eu falei que não tenho. Faz 13 anos que meu pai morreu e eu até agora não recebi nada do dinheiro da minha herança. Ganhei o processo em primeira instância, e o juiz mandou o meu irmão pagar o que é meu por direito. Então ele recorreu ao TJ, para um desembargador chamado Luiz Costa. E ele suspendeu a decisão anterior. Até aí tudo bem, mas quando minha advogada me enviou o papel do débito dos R$ 400 mil, sabe o que era? Descobri que o Valdemar entrou na condição de presidente do PL pedindo dinheiro da minha herança, e adivinha quem é o desembargador que autorizou? O mesmo Luiz. Então, o PL entrou na Justiça pedindo parte da minha herança. É o fim do mundo!
A sra. menciona o PL no vídeo…
O PL, na verdade, é uma empresa familiar. O Valdemar toca o partido como uma empresa familiar. Ele tem a executiva na mão, porque são pessoas que trabalhavam para o pai dele e agora trabalham para ele.
E a menção a Taiwan?
A história é que ele não fala inglês, e em 2004 fui em uma viagem oficial para Taiwan com ele, o então senador Aelton Freitas e o Chuong, que é um taiwanês que produz cogumelo e mora em Mogi das Cruzes. Era o contato do Valdemar com o governo de Taiwan. Servi de intérprete para o Valdemar durante o jantar com o ministro de Relações Exteriores, que o questionava sobre onde havia ido parar o dinheiro que eles haviam doado ao Brasil. Quando voltamos para o hotel, eu também questionei o Valdemar, dizendo que isso feria a soberania nacional. E aí foi o começo do fim do meu casamento. Eu fui dormir com o Martin Luther King e acordei com o Al Capone.
E a sociedade com Fernando Simões, do que se trata?
Começou a sociedade com o Sr. Júlio, que era o pai do Fernando. As empresas do Valdemar são tudo em parceria com o Fernando. Ele é o sócio oculto do Valdemar. É uma sociedade em off. O avião que estávamos quando caímos, por exemplo, não era do Fernando, e sim dele. Eles usavam sempre o Henrique Borenstein, dono da Helbor, para lavar dinheiro. Quando eu estava casada, ele era o cara que estava sempre com o Valdemar.
Quem são “os caras” que lavam dinheiro?
O Valdemar usava o Borenstein desde a época do pai dele. Ele tinha uma operação com Valdemar: na época que tinha inflação, ele fazia desconto nos salários dos funcionários da Prefeitura e ganhava um mês de inflação. O outro que lava dinheiro para ele é o Fernando Simões, que é sócio dele.
Quem é o “cara” da Funchal e qual é a história de malas de dinheiro?
O nome dele é Alípio Gusmão, não sei o que ele faz, mas todas as vezes que o Valdemar saía de Brasília com uma mala, eu o deixava em um endereço na rua Funchal. Quando voltava para buscá-lo, ele voltava sem essa mala. Então eu acho que esse cara recebia as malas de dinheiro e ficava com elas até o Valdemar buscar. Ele nunca esteve na minha casa socialmente. Fui algumas vezes, não foi uma ocasião só, buscar o Valdemar nesse escritório da rua Funchal. Depois de algumas vezes, fiquei esperta e comecei a juntar os pontos.
E a Michelle Bolsonaro, por que a sra. a citou na live?
Eu não queria falar mais sobre esse assunto. Ela foi peguete do Valdemar, foi isso o que disse na live. Tem muita coisa mais importante para se falar nesse imbróglio todo. Com informações da IstoÉ.
Assista ao vídeo: