O músico José Henrique Campos Pereira, mais conhecido como Canisso, baixista dos Raimundos, uma das grandes bandas do rock brasileiro, morreu aos 57 anos de idade na manhã desta segunda (13). A informação foi divulgada originalmente em sua página do Facebook, e confirmada à reportagem pelo empresário do grupo, Denis Porto.
A página do baixista na rede social diz que Canisso morreu às 11h30, logo depois de outra postagem, horas antes, dizendo que ele havia sofrido uma queda decorrente de um desmaio e, por isso, estava à caminho do hospital. O texto ainda pedia que fãs realizassem uma corrente de orações. A causa da morte não foi divulgada.
Nascido em São Paulo, Canisso foi criado entre a capital paulista, o Rio de Janeiro e Brasília, onde morou a maior parte de sua vida. Ele começou a tocar ainda criança, na capital federal, com o violão da irmã.
Por ser um pouco mais velho que os outros integrantes dos Raimundos, o baixista acompanhou o surgimento da cena de rock de Brasília dos anos 1980, com bandas como Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial. O músico, que já trabalhou como corretor de imóveis e vendedor de carros, era roadie antes de ter uma carreira na música.
Não consigo acreditar como isso aconteceu, um ídolo da adolescência que se tornou companheiro de estrada e um grande irmão!! To chocado e muito triste!! Que vc encontre o caminho da luz Canisso!! Meus sinceros sentimentos à família, amigos!! 🌹 pic.twitter.com/50p8x4l822
— Fernando Badaui 🗣️💨 (@fbadaui) March 13, 2023
Canisso conheceu Digão, guitarrista nos anos 1990 e atual vocalista dos Raimundos, e Rodolfo, vocalista que deixou a banda em 2001, numa época em que os três moravam na mesma vizinhança. Eles começaram a tocar juntos no fim dos anos 1980, tendo bandas punk, como Ramones e Dead Kennedys, como influências.
Um dos motivos que fizeram Canisso querer ter uma banda foi conquistar a mulher com quem depois ele se casou e teve quatro filhos, Adriana Vilhena. “Mulher de Fases”, um dos maiores sucessos dos Raimundos, foi inspirada no relacionamento do casal.
Depois de uma breve separação na virada das décadas de 1980 e 1990, a banda voltou a tocar junta e a fazer shows. Poucos anos depois, o então quarteto —com Fred Castro na bateria, além de Canisso no baixo, Digão na guitarra e Rodolfo nos vocais— gravou uma fita demo, com suas primeiras composições.
O material chegou até João Gordo, líder dos Ratos de Porão, e depois ao produtor musical Carlos Eduardo Miranda, que passou a trabalhar com os integrantes dos Titãs na criação de um selo voltado a novos artistas. O Banguela, braço da Warner comandado por Miranda, apostou nos Raimundos.
O quarteto gravou o primeiro álbum com instrumentos emprestados pelos Titãs —Canisso, por exemplo, tocou o baixo de Nando Reis. “Raimundos”, disco de estreia dos Raimundos, saiu em 1994 e foi um sucesso instantâneo, vendendo mais de 100 mil cópias logo em seu primeiro ano.
Puxado por músicas como “Puteiro em João Pessoa (Roda Viva)”, “Selim” e “Nêga Jurema”, o álbum colocou os Raimundos num patamar de popularidade maior que a estrutura do Banguela, e a banda deixou o selo para lançar suas obras pela Warner, onde ficou até o começo dos anos 2000.
Canisso participou de todos os álbuns do grupo, incluindo os mais conhecidos, “Lavô tá Novo”, de 1995, “Cesta Básica”, de 1996, e o mais vendido de todos, “Só no Forevis”, de 1999, além do autointitulado de 1994, “Lapadas do Povo”, de 1997, e o “MTV Ao Vivo”, de 2000.
Também tocou nos discos lançados após a saída do vocalista Rodolfo —”Éramos 4″, de 2001, com covers de Ramones, “Kavookavala”, de 2002, e “Cantigas de Roda”, de 2014, além do “Acústico”, de 2017.
Os Raimundos ficaram conhecidos pela sonoridade roqueira pesada, de punk e hardcore, misturada com elementos da música brasileira, em especial o forró, e letras cheias de sacanagem e deboche. A banda foi uma das mais conhecidas e relevantes do rock brasileiro nos anos 1990.
Canisso chegou a sair dos Raimundos em 2002, mas depois retornou ao grupo em 2007. Entre 2002 e 2004, ele ainda tocou nos discos lançados pelo Rodox, banda formada por Rodolfo depois que ele deixou o quarteto com o qual ficou conhecido.
Nos últimos anos, Canisso passou a se posicionar politicamente nas redes sociais para defender os Raimundos de ataques por causa das opiniões do vocalista, Digão, mais alinhado à direita. O cantor e guitarrista disse que votaria no ex-presidente Jair Bolsonaro, do Partido Liberal, e já arrumou brigas na internet com João Gordo e Tico Santa Cruz, vocalista dos Detonautas.
Canisso chegou a rebater um comentário no Twitter que dizia que os Raimundos eram “um monte de fascista safado cantando coisa ultrapassada como se fosse ok”. Na ocasião, em junho do ano passado, o baixista afirmou: “Eu e o resto não somos [fascistas], isso só acometeu os vocalistas”.
Apesar das divergências, a banda seguia tocando junta, e tinha shows agendados até o próximo mês de setembro. Redação de Lucas Brêda da Folhapress.