Seria muita audácia esperar paz e tranquilidade em dia de aprovação de contas de ex-gestor na Câmara Municipal. Itaberaba, na Chapada Diamantina, não descumpriu a regra e viu pipocar nas redes sociais intriga, confusão, ameaça e violência psicológica que terminou na delegacia. O caso envolveu uma mulher, um ‘defensor’ do ex-gestor João Filho (PP) e a plateia de sempre dos grupos de WhatsApp. A mulher se tornou mira dos ataques efusivos dos que defendem a ex-gestão ao encaminhar uma matéria do Jornal da Chapada num desses grupos. A notícia em questão trata-se da decisão do TRF em condenar João Filho por improbidade administrativa em setembro passado (veja aqui e aqui).
Insatisfeito com os ataques (corriqueiros, inclusive) nas redes sociais, um desses ferrenhos defensores achou que podia ir além: ligou para ela. Logo na primeira tentativa, desconfiada, a mulher desligou. Mas ele insistiu, foi então que ela decidiu gravar a conversa. “Não importa o que ele disse, o ato de ligar significa coagir, ameaçar, amedrontar. E isso é violência psicológica. O recado foi claro: cale a boca”, completou.
“Numa cidade em que 70% das ocorrências policiais são de violência contra a mulher, não dá para negligenciar essa postura. O intuito da atitude dele foi nítida e claramente me intimidar. É uma figura conhecida por isso aqui em Itaberaba, ouvi comentários de que inclusive já foi preso anteriormente por agredir a esposa. Como eu iria me calar?”, disse a mulher ao Jornal da Chapada.
“O que sinto é indignação. Ele ligaria se fosse um homem? E se a noticia é de domínio público, porque não posso repassar? Intimidar alguém apenas por se expressar, ou por ocupar um espaço ideológico divergente na sociedade é passível de intimidação? Essas perguntas quero que ele responda na justiça”, frisou a denunciante.
Ela continua dizendo que as mulheres não devem aceitar qualquer tipo de violência e que é preciso denunciar. “Não podemos mais aceitar qualquer tipo de violência psicológica, seja ela se valendo da sobrevivência financeira da pessoa como ferramenta, opção sexual, cor ou credo. Outras pessoas já foram vítimas dessa prática, que não tem objetivo algum de se fazer justiça por assim dizer, e sim de punir a pessoa por conta do que pensa”.
Suas críticas se estenderam. “É um achincalhamento da democracia, de um modo refinado, através de processos absurdos, que visam extorquir e ‘dar uma lição’ em quem falou contra o ex-gestor. Esse cidadão que me ligou fez isso porque é prática usual, amedrontar a pessoa com perda financeira, calar as vozes usando o judiciário como carrasco. É nesse mesmo judiciário que deposito a esperança de ser voz de várias pessoas que se viram nessa condição e a certeza de que essa pessoa, a partir de agora, pensará duas vezes antes de coagir alguém com o que quer que seja”.
Jornal da Chapada