O governo de Jair Bolsonaro (Sem Partido) omitiu a palavra “ditadura” e qualificou os 21 anos de autoritarismo como um “período de luta política” em carta enviada a relatores das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre o assunto.
A carta, de 11 de novembro, foi uma resposta à cobrança da entidade sobre a necessidade de preservação da memória no país com respeito aos anos de chumbo.
O documento, obtido com exclusividade pelo UOL, faz referência faz referência ao Arquivo Nacional e cita dados coletado sobre “a luta política no Brasil entre 1960 e 1980”.
Ao falar da análise e organização de documentos de arquivos sobre a ditadura, o governo afirma que eles trazem informações “sobre o tema das lutas políticas no Brasil no período entre 1964 e 1985”.
Em nenhum momento termos como “ditadura” ou “autoritarismo” são usados.
‘Trata-se de negacionismo’
O diretor-executivo do Instituto Vladimir Herzog, Rogério Sottili, afirmou que o uso dos termos por parte do governo segue a tendência já registrada no Enem e em outras áreas, modificando o uso das palavras para se referir ao período da ditadura. Na avaliação de Sottili, “trata-se de um negacionismo“.
O jornalista e autor de livros de história, Eduardo Bueno, aponta que existe um “projeto maior de negar a existência da ditadura no Brasil”. “Ao chamar de luta política, as autoridades insistem na existência de uma ameaça comunista que pairaria sobre o Brasil, coisa que nunca ocorreu”, disse.
“Não é surpresa. É apenas uma triste constatação dessa tentativa desse governo de rescrever a história. Mas, como todo governo autoritário, eles passarão. Não passará para a história essa versão, já que é uma versão desvinculada da realidade, de forma constrangedora”, completou. Redação da Revista Fórum com informações da coluna de Jamil Chade.