Segundo a depor nesta sexta (11) no Tribunal do Júri de Niterói a pedido da defesa, o psiquiatra forense Hewdi Lobo Ribeiro afirmou que a ex-deputada federal Flordelis relatou episódios de sufocamento durante relações sexuais com o marido, o pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho de 2019.
Os relatos, segundo Ribeiro, foram feitos durante uma avaliação psiquiátrica feita por ele e outros dois profissionais a pedido dos advogados de Flordelis. O psiquiatra descreveu que a ex-parlamentar toma cinco remédios relacionados a transtornos mentais, mas afirmou que o comportamento dela não é de uma pessoa com psicopatia.
Ribeiro afirmou que a ex-deputada não tem características de uma pessoa que pratique violência contra outras pessoas, mas sim contra si mesma, citando inclusive uma tentativa de suicídio.
O psiquiatra contou que ela foi entrevistada por três homens, o que dificultaria os relatos de abusos sexuais, mas que, ainda assim, Flordelis contou episódios de violência.
“Ela relatou contato [sexual] não consensual e, em algumas relações, a prática de sufocamento entre gestos de carinho e afeto”, diz Hewdi Lobo Ribeiro, psiquiatra forense. A defesa de Flordelis tem adotado a linha de caracterizar Anderson do Carmo como abusador.
O advogado Ângelo Máximo, assistente de acusação em nome da família de Anderson, nega que ele tivesse esse tipo de conduta. Mariah Paixão, uma das promotoras do caso, classificou a estratégia da defesa como uma tentativa de vilipendiar a memória da vítima.
Ao longo do julgamento, testemunhas se dividiram sobre o tema —houve quem relatasse que Anderson praticava abusos sexuais contra parentes, enquanto outros se mostraram indignados com a acusação, como Luana Rangel Pimenta, nora de Flordelis. “Se não fosse o pastor, a casa virava uma pornografia”, disse ela em depoimento no júri.
‘Você não pode fazer isso, você é meu pai’
No terceiro depoimento do dia, Érika Dias, filha adotiva de Flordelis, afirmou que presenciou um episódio em que Anderson do Carmo alisou uma irmã chamada Kelly enquanto ela estava deitada de bruços na cama, no quarto que elas dividiam.
Ela não soube precisar quando isso ocorreu, mas disse que foi antes de 2016, quando Kelly passou a não morar mais na residência da família. Em um primeiro momento, Érika começou a chorar e não quis dar detalhes sobre o episódio, mas voltou atrás e deu o relato na parte final de seu depoimento.
“Teve uma vez, quando só estávamos eu e Kelly no quarto, e acordei com ela falando ‘sai, sai, sai daqui Niel [como Anderson era chamado]’. Vi ele passando a mão na bunda dela e ela dizia: ‘Você não pode fazer isso, você é meu pai’. No início, fingi que estava dormindo, mas depois comecei a me mexer na cama e parece que ele se assustou e saiu.”
Vídeos com relatos
Foram exibidos pela defesa de Flordelis na manhã de hoje —quinto dia do julgamento— cinco trechos de vídeos com relatos de violência de uma neta e um filho afetivos da ex-parlamentar. Um especialista foi chamado pelos advogados dela para comentar a conduta de homens que agridem mulheres e crianças.
Janira Rocha, uma das advogadas de Flordelis, chegou ao tribunal carregando o livro “Abuso: a cultura do estupro no país”, da jornalista Ana Paula Araújo, com diversas marcações.
Desde o início do julgamento, foram ouvidas 13 testemunhas de acusação e sete da defesa. Estão previstos para hoje mais quatro depoimentos convocados pelos advogados de Flordelis e dos outros quatro réus. Em seguida, serão interrogados os cinco acusados.
O que está em julgamento. Começou na segunda (7) o julgamento de Flordelis pela acusação de ter arquitetado o assassinato de seu marido, Anderson do Carmo, morto em 16 de junho de 2019, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro.
Outras quatro pessoas acusadas de envolvimento no crime também são julgadas. Ela terá seu destino decidido por um júri popular. Além de Flordelis, são julgados sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues; a neta Rayane dos Santos Oliveira; e os filhos afetivos André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva.
O pastor Anderson do Carmo foi assassinado com dezenas de tiros quando descia do carro, no quintal de casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói.
A ex-deputada —cassada em razão do envolvimento no caso— é ré por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, associação criminosa, uso de documento falso e falsidade ideológica.
Já Marzy, Simone e André Luiz responderão por homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e associação criminosa armada; e Rayane, por homicídio triplamente qualificado e associação criminosa armada.
O que diz Flordelis. Durante todo o processo, Flordelis negou ter qualquer ligação com a morte do marido. Na quinta (10), ela interrompeu o depoimento do desembargador Siro Darlan —que elogiou os cuidados que ela tinha com as crianças que abrigava e afirmou, aos prantos: “Eu sou inocente. Me perdoa, Doutor Siro, me perdoa!”.
Em live realizada por ela horas antes de ser presa, a pastora reafirmou sua inocência. “Caso eu saia daqui hoje, saio de cabeça erguida porque sei que sou inocente. Todos saberão que sou inocente, a minha inocência será provada e vou continuar lutando para garantir a minha liberdade, a liberdade dos meus filhos e da minha família, que está sendo injustiçada.”
Em entrevista à imprensa nesta semana, Janira Rocha, advogada de Flordelis, expôs a linha de que Simone Rodrigues foi a única responsável por tramar a morte de Anderson em resposta a supostos abusos cometidos contra ela e suas filhas, netas da ex-deputada.
“Ela sofreu anos isso [abusos] e, quando chegou nas filhas, ela não aguentou. Uma coisa é que ela suportou os abusos porque tinha câncer, dependia do dinheiro para poder fazer seu tratamento de câncer, tinha quatro filhos e não tinha uma alternativa de sair de casa. Mas, quando o abuso chegou nas suas filhas, aí o copo entornou”, diz a defensora da ex-deputada.
Os demais acusados dizem que são inocentes. Com informações do UOL Notícias.