Por Raul Monteiro*
O engajamento na campanha da presidente Dilma Rousseff para o segundo turno eleitoral deu ao governador eleito da Bahia, Rui Costa (PT), uma ótima justificativa para retardar o processo de montagem de seu secretariado, para o qual o petismo baiano e os partidos aliados, notadamente PP e PSD, que também integraram a chapa vitoriosa à sucessão estadual, voltam todas as suas atenções a partir de agora, desejosos de verem assegurados na próxima gestão o mesmo espaço de que dispuseram na atual ou mesmo sua ampliação, o que depende, naturalmente, do tamanho com que saíram das urnas.
Embora a decisão de protelar o anúncio e mesmo a escolha dos nomes com que comandará o Estado a partir de janeiro de 2015 aumente o suspense no seu entorno, o governador eleito tem motivos maiores do que a campanha propriamente dita para retardar as medidas. O primeiro deles é que as circunstâncias políticas o forçam a trabalhar com dois cenários: o da reeleição da presidente, no qual ele e o PT baiano não só se engajam como acreditam, e o da sua derrota, hipótese considerada no grupo remotíssima, mas nem por isso de todo descartada.
Caso Dilma se reeleja, o PT da Bahia não só deve manter os cargos que ocupa na administração federal, restritos hoje ao segundo e terceiro escalões, como pode ainda melhorar sua participação quantitativa e qualitativa em seu segundo governo, caso que se concretizaria, por exemplo, com a eventual indicação do governador Jaques Wagner para ocupar um ministério, como já se fala abertamente tanto na Bahia quanto em Brasília. A derrota implicaria, em contrapartida, na queda de todos os quadros do petismo local que se encontram em postos federais, forçando a que Rui absorva pelo menos parte deles em seu governo.
Com tamanha variedade de contextos ao seu dispor, seria temerário ao governador eleito antecipar qualquer medida relativa ao assunto pelo menos até o dia 26 de outubro, quando as eleições acontecem, ou mesmo antes de a presidente, em caso de vitória, anunciar sua própria equipe. O tempo de que Rui dispõe para formar o secretariado não o tem impedido, entretanto, de iniciar algumas prospecções e sondagens com vistas à futura tomada de decisões nem de ir, de antemão, sinalizando que critérios utilizará prioritariamente para montá-lo.
Determinado a forjar uma imagem principalmente de gestor, o governador eleito tem deixado claro nas primeiras conversas sobre o assunto seu interesse em afunilar o perfil técnico da máquina administrativa, mesmo sabendo que o aprofundamento da exigência pode descontentar seu próprio partido e os aliados. Isto significa que indicações políticas por parte do grupo serão naturalmente aceitas, mas os escolhidos vão ter que se submeter a parâmetros de competência rígidos sob avaliação direta do próprio Rui. Não deixa de ser um bom começo, que testará a flexibilidade, entre outros atributos do novo governo.
Artigo publicado originalmente no Tribuna da Bahia*